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versão On-line ISSN 1562-4730
Biblios no.72 Pittsburgh jul./set. 2018
http://dx.doi.org/10.5195/biblios.2018.383
ORIGINAL
A importância do contexto na Ciência da Informação
The value of context in Information Science
Fabricio Foresti
Gregório Varvakis
Angel Freddy Godoy Viera
Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC Brasil.
Resumo
Objetivo. Mostrar a importância do contexto nos estudos sobre informação. Método. Pesquisa bibliográfica nas Bases Brapci e Scopus de artigos revisados por pares com o termo contexto no título. Utilizando como referência central o conceito de mecanismos de desencaixe de Anthony Giddens, o presente estudo explora a questão do contexto e aponta os mecanismos de desarticulação de contexto no âmbito da Ciência da Informação. Resultados. Os resultados mostram que a informação e o conhecimento também se constituem em instrumentos de desarticulação do contexto. Conclusões. que é fundamental contemplar o contexto em qualquer estudo de informação e que as reflexões acerca da importância do contexto e da identificação dos instrumentos de desarticulação do contexto em Ciência da Informação podem contribuir com o entendimento acerca dos problemas pós-modernos relacionados à informação e conhecimento.
Palavras-chave: Ciência da Informação; Contexto; Epistemologia
Abstract
Objective. The work presents a literature survey whose objective is to show the relevance of context in information related studies. Method. The bases for research were Brapci and Scopus, using peer-reviewed articles. It was search in the title the word context. Using as central reference the concept of Instruments of context disarticulation of Antony Giddens, this study explores the context question and the Instruments of context disarticulation in the scope of Information Science. Results. The results show that the information and knowledge are also instruments of disarticulation of the context. Conclusions. a) it is fundamental to contemplate the context in any study of information; b) the reflections about the importance of context and the identification of instruments of disarticulation of the context in Information Science can contribute as understanding about the postmodern questions of information and knowledge.
Keywords: Context; Epistemology; Information Science
1 Introdução
Na pós-modernidade as interações são cada vez mais mediadas pela tecnologia. Isso acarreta um afastamento do mundo real, físico (pessoas, terra, animais, plantas) e o fortalecimento do mundo virtual (redes sociais, realidade aumentada, computação nas nuvens, internet das coisas). As formações das cidades também retratam esse afastamento. Trata-se da chamada "segregação da experiência" segundo Giddens (2002, p. 15) onde o "contato direto" com acontecimentos que unem a "vida individual a questões mais amplas" tornam-se "raras e fugazes".
As questões existenciais são institucionalmente reprimidas ao mesmo tempo em que são criados novos campos de oportunidades para a atividade social e o desenvolvimento pessoal. A segregação da experiência é em grande parte o resultado planejado de uma cultura em que se supõe que os domínios estético e moral serão dissolvidos pela expansão do conhecimento técnico. (GIDDENS, 2002, p. 153).
O aprendizado que advém do contato com a natureza também parece estar se perdendo. As bricolagens da pós-modernidade se refletem no espaço urbano, na moda, nos comportamentos, conteúdos midiáticos e na educação. Harvey reconhece que o "pós-modernismo cultiva [...] um palimpsesto de formas passadas superpostas umas às outras e uma colagem de usos correntes". (HARVEY, 2000, 69). Bricolagem que se reflete e impacta na informação e conhecimento.
Pode-se afirmar que se trata de tendência e movimento alienante da realidade. Conhecer a realidade na sociedade em rede pode estar se tornando ainda mais difícil. A aproximação crítica da realidade é fundamental para uma "educação" libertária, para a "prática da liberdade" sustenta Freire (1980, p. 25), é "um ato de conhecimento". Cada vez mais o homem, ao mesmo tempo em que é alijado da natureza e da terra, também o é do conhecimento e da informação de qualidade, em meio ao oceano de informação que se constitui a rede.
O caráter alienante da pós-modernidade é mais agudo na sociedade em rede. Especialmente se observada a distinção apontada por Freire (2006, p. 17), de que na pós-modernidade as pessoas "não entram em contato com a realidade através das suas práxis, mas pela informação". Segundo o autor, é dever da Ciência da Informação (CI) atuar para que a informação seja elemento de "inclusão social", bem como exercer a sua responsabilidade social através da informação e do conhecimento. Essa colocação é fundamental ao presente estudo.
O contato com a realidade é cada vez mais simbólico (e menos sensorial) e mediado pela informação e suportes associados, rede, tecnologias, dispositivos. O distanciamento da realidade é facilmente observável, mas trata-se de paradoxo: ao mesmo tempo em que os usuários se distanciam da realidade imediata, as interações e consumo de informação são mais intensos do que nunca. A figura do sábio que se isola numa montanha para adquirir conhecimento verdadeiro, tal como Lao Tsé1, parece ser figura estranha em tempos de conexão extrema e interações sem fim, de:
Explosiva exteriorização do saber em relação ao sujeito que sabe, em qualquer ponto que este se encontre no processo de conhecimento. O antigo princípio segundo o qual a aquisição do saber é indissociável da formação do espírito, e mesmo da pessoa, cai e cairá cada vez mais em desuso. Esta relação entre fornecedores e usuários do conhecimento e o próprio conhecimento tende [...] a assumir a forma que os produtores e os consumidores de mercadorias têm [...] a forma de valor [...] produzido para ser vendido [...] consumido para ser valorizado numa nova produção: nos dois casos para ser trocado. (LYOTARD, 2002, p. 4-5).
Estar desconectado não é um bom negócio, alardeiam as propagandas comerciais de telefonia móvel. É preciso exercer a ubiquidade, gritam em uníssono as operadoras e publicidade relacionada. Contudo, para adquirir sabedoria é preciso afastamento, distância do barulho, dos ruídos, da ‘praça’. Nietzsche (2003, p. 334) alerta: "na praça do mercado, ninguém acredita em homens superiores". A negação da sabedoria tem consequências funestas, é a própria destruição a ética. É preciso distinguir entre o que é sabedoria e conhecimento, pois mesmo o conhecimento precisa ser compreendido para que a sabedoria venha à tona. Será que a sociedade presencia a extinção dos sábios, mesmo com o conhecimento pleno disposto nas estantes das bibliotecas, plenamente acessível e quiçá disposto em rede? É como morrer de sede ao navegar em imenso rio poluído.
A informação se transforma em conhecimento quando é integrada a outras informações numa forma que serve para decidir, agir ou compor um novo conhecimento. O conhecimento se transforma em compreensão quando é relacionado a outro conhecimento de uma maneira que serve para conceber, antecipar, avaliar e julgar. A compreensão se transforma em sabedoria quando é informada pelo propósito, pela ética, pelo princípio, pela lembrança do passado e pela projeção no futuro. (HOCK, 1999, p. 204).
A tecnologia simboliza um tipo de evolução, mas não torna o homem necessariamente mais ético e sábio, nem mesmo é sinônimo de uso adequado da informação. Por mais importante que a tecnologia seja para a CI, é mister entender que a sabedoria é mais que informação e conhecimento. Será que a sociedade que mercantiliza conhecimento e informação renega voluntariamente a sabedoria? Seria a sabedoria um ‘mau negócio’ para as organizações e deixado de ser uma ambição dos homens? O conhecimento e informação necessários à paz e harmonia plena entre os homens existe e está disponível, contudo, os homens usam ou desejam essa informação/conhecimento?
Na sociedade atual se dissemina um novo tipo de "conforto que se identifica com a abundância informacional, as interações virtuais, a acessibilidade permanente e ilimitada" sustenta Lipowetski (2007, p. 227). Ao contrário das sociedades apontadas pelo ocidente como ‘primitivas’:
As sociedades nativas [...] tiveram tempo para desenvolver a compreensão e a sabedoria numa proporção muito elevada aos dados e informações. Talvez não soubessem muita coisa pelos padrões de hoje, mas compreendiam muito bem o que sabiam. Eram imensamente sábias com relação a informação que tinham, e essa informação era condicionada por uma proporção muito alta de valor espiritual. [...] Nossa sociedade, ao contrário, compreende muito pouco o que sabe. E tem ainda menor sabedoria em relação a informação que domina. (HOCK, 1999, p. 205-206).
O excesso de informação sempre foi um grande problema para a CI e está ligado à sua emergência. (SILVA; FREIRE, 2012). A desarticulação do contexto torna o problema da informação ainda mais complexo. Mas o que é entendido como contexto? No presente estudo contexto é o "conjunto de circunstâncias relevantes para a construção do conhecimento" conforme Figueiredo e Afonso (2005, p. 5-6).
Paul Otlet sonhava em obter a paz através da informação (FREIRE, 2006), mas o que se observa na atualidade é que a informação está sendo usada como arma de guerra, não muito distinta de um fuzil, em função da desarticulação do contexto da informação e do conhecimento. A desarticulação do contexto é facilmente observável no cotidiano, basta atentar ao uso de smartphones: ocorre de forma generalizada em salas de aula, peças teatrais, conversas pessoais, reuniões e mesmo no trânsito! E a mera presença do smartphone é o suficiente para interferir num diálogo. (PRZYBYLSKI; WEINSTEIN, 2012). Em ambientes escolares e acadêmicos o problema torna-se ainda mais grave. Ao mesmo tempo, os trabalhadores sofrem com a tecnologia móvel, especialmente em função da perda das fronteiras entre vida pessoal e trabalho (COUSINS; ROBEY, 2014), que pode ser entendido como espécie de desarticulação do contexto.
Na atualidade os smartphones são os grandes vetores da degeneração do contexto da informação, em conjunto com a rede e a tecnologia sem fio. Mas não são os únicos vetores, nem mesmo os arautos do fenômeno. É um movimento que se inicia com a televisão, é acentuado pelos computadores e extrapolado pelos telefones móveis. Hoje, os poucos minutos de reflexão que existiam nos entrepostos da vida, como estações de transporte coletivo, breves caminhadas em direção ao trabalho ou mesmo os movimentos no trânsito (que costumavam ser solitários e reflexivos), são cada vez mais tomados por informação, momentos colonizados pela conexão e interação constante. É por isso que Le Breton (2017) afirma que o "silêncio" hoje, é uma forma de "resistência política".
Apresentado o contexto como tema central da pesquisa, emerge o problema: qual a importância do contexto para a CI? Para responder à pergunta, o estudo objetiva mostrar a importância do contexto ao se discutir informação ou mostrar a importância do contexto para a compreensão dos processos e estudos relacionados à informação, bem como, como o contexto é abordado em CI e qual sua importância para a área. A pesquisa também busca identificar os "mecanismos de desencaixe" de contexto em conformidade com os conceitos de Giddens (1991;2002), e identificar àqueles que se constituem em objeto de estudo da CI.
Para alcançar os objetivos propostos foi realizada pesquisa bibliográfica na Scopus e Brapci de artigos da grande área de Ciências Sociais, sem restrições temporais, com o termo ‘contexto’ no título. Também foram incluídos livros avaliados como valorosos para responder o problema de pesquisa proposto. É preciso destacar
que a pesquisa bibliográfica foi complementar ao estudo, e não instrumento central. O que se lê nas seções seguintes é a junção de textos epistemológicos da área de CI, de livros e, dos artigos recuperados.
2 A importância do contexto em Ciência da Informação
O termo contexto possui muitos sentidos. De acordo com o dicionário Houaiss (2001, p. 817-818) surge no séc. XVIII, aproximadamente em 1702. Tem origem latina ("contextus"), verbo "entrelaçar" ("contexere") ou "reunir tecendo", derivado de "tecer" ("texere"); possui muitos sentidos, como a "inter-relação de circunstâncias" ligadas a determinado acontecimento, o "conjunto de palavras, frases, ou o texto que precede ou se segue a determinada palavra" ou que ajudam a elucidar seu significado. Pode significar ainda, segundo o dicionário, o "encadeamento do discurso", o "texto no seu todo", "ambiente" e também o "conjunto de condições de uso da língua" o que envolve a atuação linguística e "social" do sujeito formada pelos "dados comuns ao emissor e ao receptor". A Figura 1 ilustra de forma sintética as definições apresentadas sobre o sentido de contexto. Para que não haja confusão teórica, é importante manter distinção clara acerca dos três conceitos apresentados, o que é esclarecido no Quadro 1.
Através da exposição anterior pode-se explorar o conceito de contexto no âmbito da CI. Pode-se afirmar que todos os tipos de contexto interessam à CI. Em essência, pela relação interdisciplinar da CI com a linguística (BORKO, 1968) ou com o "sistema linguístico" apontado por Rendón Rojas (2008, p. 74).
O contexto também influi nas três dimensões de informação apontadas por Buckland (1991): "informação como processo" "coisa" e "conhecimento"; o primeiro sentido está ligado ao processo informativo ou de comunicação da informação, o segundo aos suportes da informação e o terceiro ao que é "percebido" na "informação como processo". Verifica-se, ao cotejar o sentido de contexto com dimensões da informação de Buckland (1991), que os suportes ou coisas estão ligados ao contexto verbal ou linguístico, enquanto as demais dimensões (informação como processo e conhecimento) sofrem a interferência de todos os tipos de contexto. Vale destacar que os sentidos do termo contexto abarcam os dados, a informação, o conhecimento, o texto, o ambiente, o emissor e o receptor.
McGarry (1999, p. 2) reconhece o "contexto dinâmico da informação" e verifica os muitos "usos e contextos do termo informação" no cabeçalho de assuntos do Information Science Abstracts. O autor reconhece a "realidade externa" ao usuário, apontada como a própria origem da informação, utilizada pelos usuários de muitas formas, e mostra a importância do contexto externo para definir o termo informação.
Segundo McGarry (1999, p. 6-7) "informação é o termo que designa o conteúdo daquilo que permutamos com o mundo exterior ao ajustar-nos a ele" e questiona: "como o mundo exterior se situa nesta análise básica da informação?" (resposta que pode estar contida no entendimento do contexto). O autor também classifica os "pacotes de informação ou estímulos" que o mundo real impõe aos sentidos dos usuários como "eventos", que podem ser entendidos como "atos de aprendizagem"; atos que envolvem um usuário num contexto de eventos ou partes do mundo real, "coisas que acontecem; condições ou objetos que existem para um ou vários seres humanos [...] algo que acontece num breve espaço de tempo". Contudo, ainda segundo o autor, existem eventos "internos e externos" que formam o contexto imediato em que o usuário está inserido (por exemplo, ao atravessar a rua). Pode-se inferir que a Figura 1 se mostra mais complexa ao se considerar o contexto interno do usuário.
Autores apontam a questão do contexto em educação como problema antigo, que apenas recebeu a devida atenção a partir da era industrial, com o advento da educação em massa, momento em que o ensino começa a acontecer cada vez mais fora do contexto tradicional. (FIGUEIREDO; AFONSO, 2005). Figueiredo e Afonso (2005, p. 5-6) sustentam que qualquer acontecimento pode ser oportuno à aprendizagem e aquisição de conhecimento, independente da duração e intensidade do acontecimento, seja intencional ou não (por exemplo, cursos, palestras ou acontecimentos banais do cotidiano). Segundo os autores, o usuário ou "aprendiz" encontra-se entre o conteúdo e o contexto, que por sua vez, engloba o "conteúdo" ou a informação e o usuário. Os autores ainda definem o "conteúdo" como informação estruturada em forma de texto ou qualquer suporte, e o contexto como o "conjunto de circunstâncias relevantes para a construção do conhecimento". A Figura 2 ilustra a visão dos autores sobre o contexto para aquisição de conhecimento ou ensino.
Outros autores apontam a importância do contexto em educação, bem como o uso de dispositivos móveis (DM) na rotina de ensino. (BARBOSA et al., 2014; DIAS, 2010). Barbosa et al. (2014, p. 686-687) explicam que o modelo de aprendizagem ubíqua2 se vale do uso de DM, "location technology" e de informação contextual3, em prol do ensino personalizado, que a "mobile and ubiquitous learning" compreende que os recursos pedagógicos devem ser orientados ao contexto do aluno. Para Dias (2010, p. 63) a ubiquidade e a ubiquidade permitem, em educação, que "todos" tenham "voz" e possibilidade de "construir um currículo que expresse os desejos de liberdade do homem".
A importância do contexto em comunicação foi apontada por Roazzi (1987, p. 102-102). O autor explica que as palavras podem ter "tantas conotações que a sua utilização" já "não comunica significado algum". Segundo o autor, é no contexto que emerge o sentido, mas o sentido pode se perder rapidamente, justamente em função do próprio contexto; por isso é mais fundamental observar a "relação entre forma e contexto" ao invés de apenas o sentido das formas verbais. Ainda segundo o autor, o sentido de determinado termo ou "comportamento" é transformado a "níveis sempre mais amplos do contexto" em relação a situações, instituições ou culturas. Esse apontamento não é outra coisa senão o que sustentam Capurro e Hjorland (2007) sobre o termo informação.
É notório e natural que em CI o termo informação seja grandemente discutido. Mas é preciso questionar: estaria o termo informação perdendo seu sentido em meio a tantas discussões e definições? Afinal, a informação é "em si ambivalente" seja ao emissor ou receptor sustenta Demo (2000, p. 41), é filtrada pela "subjetividade" cuja fronteira é o entendimento ou percepção dos usuários. Porém, segundo o autor, é justamente a ambivalência da informação que oportuniza os meios adequados para a criação e a invenção. Ao mesmo tempo, gera muitos outros problemas. Para Demo (2000, p. 41) a atual sociedade da informação "informa bem menos do que se imagina".
Muitos textos da área de CI apontam a importância do contexto aos estudos de informação. Mas apesar da importância verificada por muitos autores, o tema ainda carece de estudos teóricos e práticos sobre o problema. É preciso conhecer, entre outras coisas, qual o papel das tecnologias na degeneração dos contextos informacionais. Claramente a CI possui um grande desafio relacionado ao contexto da informação e do conhecimento.
Saracevic (1996, p. 47) afirma que o contexto se constitui em um problema da CI, seja ele "social", "institucional" ou "individual". O contexto se mostra importante para compreender o usuário e as diversas sociedades e culturas, bem como os problemas enfrentados pelas unidades de informação. Por exemplo, o Brasil possui realidades distintas e os problemas enfrentados pelas bibliotecas no Acre podem ser bem diferentes daqueles enfrentados no Sul ou nordeste do país. Mas a questão do contexto é muito mais ampla que a localização geográfica.
O contexto impacta na informação, no conhecimento e na praxe da produção científica. Transmitir conhecimento e informação pode ser entendido como um ato contextual. Segundo Marteleto, Nóbrega e Morado (2013, p. 100) na atualidade o "conhecimento que resulta da ação e das relações dos sujeitos em seu fazer na história, em suas práticas culturais, é sempre um conhecimento contextual". Mesmo o conhecimento científico depende de seus contextos. (FEYERABEND apud GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2001).
Segundo Wilson (apud BUCKLAND, 1991, p. 10) a informação é sempre "circunstancial" e os objetos, documentos, dados ou eventos são informativos conforme as "circunstâncias". Buckland (1991, p. 10-11) também reconhece que o poder de algo ser "ser informativo" é "situacional". Segundo o autor, "em situações específicas e em determinado momento um objeto ou evento pode ser informativo". Em função do contexto (ou circunstâncias) é arriscado apontar algo como não sendo informativo - ou como informação - em dada situação, ou seja, o que é informação depende do contexto adequado para que algo seja definido como informação. (BUCKLAND, 1991, p. 15).
Para Mahler (apud CAPURRO; HJORLAND, 2007, p. 163) a própria informação é um "conceito contextual". Quando se discute o termo informação segundo Capurro e Hjorland (2007, p. 150-151) é preciso estar ciente de que a informação diz respeito não apenas à "novidade" ou "relevância", mas também a um "processo de transformação do conhecimento" e de "seleção e interpretação" em contextos específicos. Segundo os autores é preciso "considerar as diferentes profissões" ou campos de conhecimento relacionados e envolvidos na "interpretação e seleção de conhecimento".
Capurro e Hjorland (2007, p. 160) apontam que na atualidade a maior parte das disciplinas científicas aplica o "conceito de informação" em conformidade com "seu próprio contexto" e relacionado a "fenômenos específicos". Os sentidos de informação são definidos em contextos específicos (social e cultural) e a CI deve ser mais sensível à interpretação e "diferenças qualitativas" dos muitos "contextos e mídias" enunciam Capurro e Hjorland (2007, p. 150-151). Segundo os autores, os "processos interpretativos" são fundamentais para compreender os "processos de informação". Como a CI pode se abrir e explorar os muitos contextos, aparentemente, ainda é uma questão em aberto, contudo, as metodologias qualitativas oferecem um norte para tal.
A questão do contexto também impacta no fazer do profissional da informação. Uma unidade de informação que não conhece o contexto social da comunidade atendida corre o risco de excluir os usuários ao invés de incluir. Segundo Capurro (2003) o labor "informativo é um trabalho de contextualizar ou recontextualizar" o conhecimento. O profissional da informação precisa despertar em seu cotidiano profissional à problemática do contexto para garantir uma aproximação mais precisa das necessidades de informação dos usuários.
Por exemplo, as universidades federais brasileiras possuem estudantes de diversas regiões do Brasil, não compreender o contexto, a cultura e a língua desses alunos, pode fomentar a exclusão e dirimir o acesso pleno à informação e conhecimento. Barbosa e Bax (2016) ilustram que "explorar o conhecimento explícito específico do contexto" previne a perda de "recursos organizacionais" em forma de "retrabalho". O serviço de referência deve estar particularmente atento ao contexto de cada usuário. Na atualidade, fatias sociais que até então não haviam se apropriado das universidades federais, como os alunos cotistas, merecem atenção especial em relação ao contexto.
O contexto deve compor o planejamento dos serviços de informação, especialmente no que diz respeito à Recuperação da Informação (RI). Por exemplo, recuperar informação em dispositivos móveis transforma grandemente esse antigo problema da CI, justamente em função do contexto do novo usuário móvel. (GODOY VIERA; FORESTI, 2016). Segundo os autores, a RI agora "está em movimento" e o problema de recuperar informação é mais "complexo" do que alguns anos atrás, afinal, a "ubiquidade do acesso à informação" permite
aos usuários pesquisar livres das restrições de tempo-espaço, com impactos no "ensino, trabalho, comércio" e em especial, sobre o comportamento informacional dos usuários. Outros autores apontam a importância do contexto na arquitetura da informação: segundo Guimarães e Souza (2016, p. 274-275) é preciso considerar "todo o contexto de uma instituição" ao desenvolver projetos relacionados à arquitetura da informação.
Não é apenas o fazer do profissional da informação que é impactado pela problemática do contexto. Os profissionais da educação e os estudantes em geral precisam atentar para as nuances dos contextos da informação. Mesmo uma simples revisão de literatura deve atentar aos contextos. Segundo Proença Junior e Silva (2016, p. 239) o contexto de "realização individual de um mapeamento sistemático da literatura não é despido de consequências". Para o autor, o mapeamento da literatura se contextualiza pela particularidade do tema e pela "adoção de heurísticas" onde os temas possuem dinâmicas de acordo com os meios e espaços relacionados. Ou seja, as particularidades de cada área do conhecimento e o assunto, compõe o contexto de uma revisão de literatura - que os pesquisadores devem atentar, para o bem da pesquisa.
O contexto pode interferir na apropriação e uso da informação pelos usuários. Pimenta (2013, p. 157-158) reconhece que a desarticulação do contexto pode ser um empecilho à edificação do conhecimento, "quando a exposição ao excesso de informações, deslocadas de seu tempo-espaço fundador" torna impossível a tradução e uso da informação/conhecimento de forma adequada. Assim, conhecer os mecanismos que promovem a desarticulação da informação e do conhecimento, bem como o impacto desse fenômeno nos usuários, instituições e no uso da informação, é problema de pesquisa que desafia a CI. Afinal, como afirma Araújo (2012, p. 149-150) os usuários sofrem a influência do contexto (ainda que não seja total) e "acessar e usar informação" é concomitantemente uma "ação cognitiva", "emocional, cultural" e "contextual".
Autores apontam a importância do contexto em Gestão do Conhecimento: segundo Rezende, Pereira e Oliveira (2016, p. 76-77) é possível criar valor através do fomento de "contextos capacitantes", ou seja, "ambientes organizacionais" encorajadores, estimulantes da "participação" e promoção da "convivência". Segundo os autores:
Organizações que despontam pela criatividade e inovação preocupam-se não apenas com a contratação de profissionais diferenciados sob tais pontos de vista, porém criam ambientes em que a criatividade e a inovação dos indivíduos possam convergir para a oferta de valor na forma de processos, produtos e serviços. (REZENDE; PEREIRA; OLIVEIRA, 2016, p. 76).
Para compreender a história e a ciência também é preciso ter sensibilidade ao contexto. Segundo Jesus, Simeão e Martins (2016, p. 18-19) o progresso das "ciências e das técnicas" apenas "pode ser compreendido" pela "reconstrução do contexto social" em que estão inseridas. As próprias transformações dependem tanto dos envolvidos quanto dos contextos. (JESUS; SIMEAO; MARTINS, 2016). Mesmo o passado é transformado pelo contexto do presente dos 'intérpretes'. Segundo Reis, Serres e Nunes (2016, p. 55) o "passado" está imerso num "contexto que o modifica" e possui muitos sentidos que não estão "necessariamente" ligados "à sua origem". Para os autores mesmo os bens culturais são contextuais e transformados pela rede, pois deixam de:
Ser o patrimônio reservado, mantido distante do contexto social, que necessita de mediação, e passa a ser elemento em fluxo, contextual. Contextual porque existe a partir de relações tecnológicas que operam (softwares, velocidade de banda internet, plugins, etc,), e também porque quando é colocado em outro contexto tecnológico, como outro website, assume novos sentidos em contato com outros usuários. É um bem que não é finito, e que não existe com a mesma potência quando retirado do convívio social. (REIS; SERRES; NUNES, 2016, p. 62).
Desta forma, foram apresentadas algumas visões de autores da área de CI e afins, que revelam a importância do contexto aos estudos de informação, educação, gestão do conhecimento e comunicação. Dentre os artigos recuperados, destaca-se um que possui estreita relação com a seção posterior, sobre os instrumentos de desarticulação do contexto. Trata-se do estudo de Dumont e Gattoni (2003, p. 46), que apontam a necessidade
da CI atentar para as "teorias sociais"4. As autoras sustentam que a ótica de Giddens desnuda "consequências [...] na forma de buscar, usar e transmitir informações na sociedade contemporânea". O estudo de Dumont e Gattoni (2003) pela importância e pioneirismo, compõe o pano de fundo da pesquisa, em conjunto com os conceitos de Giddens (1991; 2002). Segundo as autoras:
Acredita-se que, se os contextos sociais não forem levados em suficiente consideração, as pesquisas e estudos em ciência da informação tornam-se limitados, no mínimo distorcidos, no tocante às pesquisas do fenômeno informacional. (DUMONT; GATTONI, 2003, p. 47).
Após conhecidos os olhares de alguns autores da área de CI e afins acerca do valor do contexto, é preciso entender os mecanismos que atuam na pós-modernidade para a sua degeneração ou desarticulação. Mecanismos que atuam de muitas formas, com objetivos e impactos materiais, espaciais, temporais e simbólicos claros, especialmente em relação à informação e conhecimento. Dentre os objetos que se constituem em instrumentos de desarticulação do contexto, muitos são objetos de estudo da CI. A seguir serão caracterizados os "mecanismos de desencaixe" em conformidade com os conceitos de Giddens (1991; 2002), para em seguida, realizar algumas inter-relações com os objetos de estudo da CI.
3 Os instrumentos de desarticulação do contexto
O que se pretende mostrar nesta seção é que existe uma dinâmica social particular na sociedade hodierna que depende dos instrumentos desarticuladores do contexto. Instrumentos que podem ser de muitos tipos: dispositivos móveis, informação, conhecimento, dinheiro, religião, moda. Instrumentos materiais ou imateriais, com características particulares, que atuam ativamente na sociedade atual, distanciando o tempo-espaço e, por conseguinte, os contextos. Pode acontecer com quase tudo: informação, conhecimento, signos, tecnologia e com os próprios usuários.
Na seção anterior foi explicado o sentido do termo ‘contexto’, agora, é preciso definir a sua desarticulação. A desarticulação acontece por meio de instrumentos que alijam o convívio social do contexto real e promovem um reordenamento, sem restrições espaço-temporais. (GIDDENS, 2002, p. 221). Em outros termos, os vetores da desarticulação do contexto são definidos por Giddens (1991, p. 142) como "mecanismos de desencaixe", instrumentos que retiram as "relações sociais e as trocas de informação" dos "contextos" originais no tempo-espaço, oportunizando a "reinserção" alhures dos intercâmbios de informação e relações sociais. Na sociedade em rede a desarticulação fica patente nas intervenções virtuais - distantes no tempo-espaço da realidade imediata dos usuários - que orientam o cotidiano social. São intervenções de agentes distantes dos contextos locais e podem ocorrer nos âmbitos econômicos, políticos e sociais, coletivos ou individuais.
Mecanismos de desencaixe são de dois tipos [...] fichas simbólicas e sistemas especializados [...] sistemas abstratos. Fichas simbólicas são meios de troca que têm um valor padrão [...] intercambiáveis numa pluralidade de contextos. [...] ex. dinheiro [...] põe entre parênteses o tempo (porque é um meio de crédito) e também o espaço (pois o valor padronizado permite transações entre uma infinidade de indivíduos que nunca se encontraram fisicamente). Os sistemas especializados põem entre parênteses o tempo e o espaço dispondo de modos de conhecimento técnico que têm validade independente dos praticantes e dos clientes que fazem uso deles [...] penetram em todos os aspectos da vida social [...] alimentos [...] remédios [...] prédios [...] transporte [...] não se limitam a áreas tecnológicas; estendem-se às próprias relações sociais e às intimidades do eu. (GIDDENS, 2002, p. 24).
Os instrumentos de desarticulação dos contextos atuam na sociedade de muitas formas, física e virtual, simbólica e material, compõem o movimento da pós-modernidade. Trata-se de dinâmica social que possui três origens segundo Giddens (1991, p. 25): a) cisão do espaço-tempo seguido de seu ajuste (o que torna possível o controle total no espaço-tempo da vida social); b) o "desencaixe dos sistemas sociais", intimamente ligado à cisão do tempo-espaço; c) o ajuste contínuo das "relações sociais" por meio da criação ininterrupta de conhecimento (reflexividade).
Toda a dinâmica social hodierna está ligada ao distanciamento do espaço-tempo e desarticulação do contexto, ao uso da informação e do conhecimento. Para Giddens (2002, p. 22) a "organização" é a palavra de ordem, pois através desses instrumentos é possível controlar de forma "regular" as "relações sociais dentro de instâncias espaciais e temporais indeterminadas". É preciso explicar melhor os elementos envolvidos nessa dinâmica:
a) Separação do tempo e espaço: a condição para a articulação das relações sociais ao longo de amplos intervalos de espaço-tempo, incluindo sistemas globais. b) Mecanismos de desencaixe: fichas simbólicas e sistemas especializados (em conjunto = sistemas abstratos). [...] separam a interação das particularidades do lugar. c) Reflexividade institucional: o uso generalizado de conhecimento sobre as circunstâncias da vida social como elemento constitutivo de sua organização e transformação. (GIDDENS, 2002, p. 26).
Os instrumentos desarticuladores do contexto possuem funções particulares fundamentais na sociedade hodierna. Em essência, estabilizam as relações sociais - no tempo-espaço - através do estabelecimento de um ambiente de segurança. (GIDDENS, 1991). Além disso, a cisão do tempo-espaço segundo Giddens (1991, p. 28), tem o poder de recombinar as práticas sociais, ampliar o "desencaixe", ligar o "local e o global" e tornar o capital livre de limitações advindas de costumes regionais - todas atribuições fundamentais ao desenvolvimento do capital na pós-modernidade. São instrumentos claramente ligados à globalização.
Segundo Giddens (2002, p. 27) mesmo o "conceito de globalização" fica mais claro se observado sob a ótica do alijamento do tempo-espaço relacionado "à intersecção entre presença e ausência", a ligação entre "eventos e relações sociais" distantes das "contextualidades locais". Fenômeno que transfigura o tempo-espaço, para retirar da "vida social" a "influência" das "práticas e preceitos pré-estabelecidos" sustenta Giddens (2002, p. 25).
A informação e conhecimento desempenham papel central na desarticulação das relações sociais, contudo, também são desarticulados. É a "reflexividade" segundo Giddens (2002, p. 25-26) que faz com que muitas características da "atividade social e das relações materiais com a natureza" sejam constantemente revisadas de forma "intensa à luz de novo conhecimento ou informação". Para o autor, as informações e conhecimentos não são ocasionais, mas formadores das "instituições modernas". E essas mesmas informações e conhecimentos:
Atuam desqualificando muitos aspectos das atividades cotidianas [...] não é simplesmente um processo em que especialistas técnicos se apropriam do conhecimento cotidiano [...] nem é um processo unidirecional, porque a informação especializada, como parte da reflexividade da modernidade, é de uma forma ou de outra constantemente apropriada pelos leigos [...] Todos os que vivem nas condições da modernidade são afetados por inúmeros sistemas abstratos, e podem na melhor das hipóteses processar apenas um conhecimento superficial de suas técnicas. (GIDDENS, 2002, p. 28).
E como situar-se na realidade se esta é extremamente dependente de nossas percepções e respostas ao tempo-espaço? McGarry (1999, p. 8-9) aponta que o "tempo-espaço são os contextos básicos dos processos de raciocínio" e a própria "essência de nossa humanidade", o tempo a mais "fundamental e primitiva experiência do mundo", sinônimo de "transformação", de um "fluxo unidirecional que aponta como uma flecha para o futuro". Segundo o autor, "ovelhas a pastar satisfeitas na colina não têm tal conceito" e não tem consciência do que veio antes e do que virá no futuro. Ainda segundo o autor, questões do tipo "quando" e "onde" são formas de organização do tempo espaço e "podem surgir tanto em conceitos passados quanto futuros". Estaríamos perdendo as noções sobre o tempo-espaço e nos tornando incapazes de responder questões como ‘quando e onde’, incapazes de localizar os eventos no tempo-espaço, reconhecer o passado e planejar o futuro? Seria o advento do eterno presente de que fala Harvey (2000, p. 216), resultado da "compressão" espaço-temporal, ou seja, da sociedade esquizofrênica?
A desarticulação do tempo-espaço tem implicações profundas. Elias (1998, p. 35-36) explica que o "conceito de tempo" contém em si altos níveis de "generalização e de síntese", é "um riquíssimo patrimônio social de saber". Segundo o autor, a sociedade hodierna vive num universo artificial de "signos" onde as indicações temporais "são cada vez mais indiretas e soltas". Elias (1998, p. 80) aponta que "os conceitos de espaço e tempo fazem parte dos instrumentos de orientação primordiais de nossa tradição social". Mas dentre os objetivos da desarticulação dos contextos e do distanciamento do tempo-espaço está justamente a destruição das tradições sociais para o bem do livre comércio e do capital.
Ainda assim, na atualidade, os instrumentos desarticuladores do contexto desempenham importância central e podem ser interpretados de formas positivas ou negativas. Por exemplo, a miríade de aspectos negativos nas grandes cidades (trânsito, violência, poluição) faz crescer a busca por alternativas de convivência baseada em informação, ou seja, com baixa interação presencial; essa cisão (do tempo-espaço) é facilmente observável no cotidiano, através do comércio eletrônico, cursos à distância e todos os serviços ofertados que dispensam o deslocamento físico para que seja consumido (DUMONT; GATTONI, 2003) e os serviços de informação destacam-se no mercado pós-moderno.
Em comunidades opressoras, as influências advindas dos instrumentos desarticuladores podem ser positivas num primeiro momento, ao permitir mais liberdade e acesso à informação. Contudo, a vigilância desponta como o maior dos perigos. Giddens (2002, p. 139-140) chama a atenção ao fato de que o aumento do poder de "vigilância" e "controle da atividade social" faz emergir "assimetrias de poder", ao mesmo tempo em que "consolida" em níveis múltiplos a "dominação de certos grupos ou classes sobre outros". A informação surge como central nos processos de vigilância e controle:
De maneira particular sob a forma da codificação da informação ou do conhecimento envolvidos na reprodução do sistema, os mecanismos de vigilância superam os sistemas sociais de seus referentes externos ao mesmo tempo em que permitem sua extensão para setores cada vez mais amplos do espaço-tempo. Vigilância mais reflexividade significa "aplainar as diferenças" de tal forma que o comportamento não integrado num sistema - isto, é, que não faz parte dos mecanismos de reprodução do sistema, torna-se alheio e isolado. (GIDDENS, 2002, p. 140).
Em todas as sociedades - mesmo as mais estáveis e prósperas - o impacto dos instrumentos desarticuladores é evidente sobre as relações sociais. Por exemplo, na atualidade, pode-se conhecer mais acerca da vida de uma celebridade internacional do que o próprio vizinho. Esse é um tipo de desarticulação de contexto que introduz uma realidade distante pela informação e enfraquece o contexto local. Fica claro que os instrumentos desarticuladores atuam em forma de informação, mídia e tecnologia.
Instrumentos que atuam criando "texturas de experiência via mídia" sustenta Giddens (2002, p. 31) impossíveis de se obter com a "palavra impressa", é o "efeito colagem". Isto acontece, segundo o autor, ao passo que os acontecimentos prevalecem sobre os lugares; a disseminação de conteúdos pela mídia, que faz coincidir objetos de informação "que nada têm em comum" além de serem adequados e impactar. Ainda segundo o autor, as "histórias separadas" dispostas na mídia evidenciam uma ordem de "consequencialidade" de ambientes transfigurados espacial e temporalmente, cuja primazia dos lugares já não existe mais.
Uma segunda característica da experiência transmitida pela mídia nos tempos modernos é a intrusão de eventos distantes na consciência cotidiana, que é em boa parte organizada em termos da consciência que se tem deles. Muitos dos eventos relacionados no noticiário podem ser experimentados pelo indivíduo como exteriores e remotos; mas muitos também se infiltram na atividade diária. A familiaridade gerada pela experiência transmitida pela mídia pode talvez, com frequência, produzir sensações de "inversão da realidade": o objeto ou evento real, quando encontrado, parece ter uma experiência menos concreta que sua representação na mídia. Além disso, muitas experiências que podem ser raras na vida cotidiana [...] são encontrados rotineiramente nas representações midiáticas; o enfrentamento dos fenômenos reais sem i é psicologicamente problemático [...] os meios de comunicação não espelham realidades, mas em parte as formam. (GIDDENS, 2002, p. 32).
A mídia de massa é vetor importante da desarticulação do contexto. A mídia intensifica os processos de distanciamento espaço-temporal. Os impactos causados nos lugares e a inserção de processos distantes aos locais, mesclada com os conteúdos midiáticos, transfiguram inclusive a visão que as pessoas têm do mundo, ou seja, modificam o mundo. (GIDDENS, 2002). Outros autores apontam o enfraquecimento das relações de co-presença física e a emergência de placebos digitais substitutos dessas relações. (DUMONT; GATTONI, 2003). Dumont e Gattoni (2003, p. 50) identificam "sistemas abstratos psicológicos ou afetivos" originários das atividades em rede e objetos digitais (mensagens, imagens, ícones) que são verdadeiros retratos da ânsia dos usuários por capturar e preservar momentos relevantes da existência, por meio da comunicação e "interações telemáticas". Pode-se afirmar que isso acontece via dados e informação. Para Giddens (2002, p. 129) os "sistemas abstratos desqualificam [...] todos os setores da vida social que atingem. A desqualificação da vida social cotidiana é um fenômeno alienante e fragmentador no que diz respeito ao eu".
O advento da modernidade arranca crescentemente o espaço do tempo fomentando relações entre outros ‘ausentes’, localmente distantes de qualquer situação dada ou interação face a face. Em condições de modernidade, o lugar se torna cada vez mais fantasmagórico: isto é, os locais são completamente penetrados e moldados em termos de influências sociais bem distantes deles. O que estrutura o local não é simplesmente o que está presente na cena; a ‘forma visível’ do local oculta às relações distanciadas que determinam sua natureza (GIDDENS, 1991, p. 27).
O fenômeno do desencaixe de contexto está ligado a dois tipos de ajustes necessários, que inter-relacionam presenças e ausências, fundamental na dinâmica da sociedade em rede: são os "compromissos com rosto" (ou "relações pessoais") e os "compromissos sem rosto" (ou "relações impessoais") explica Giddens (1991, p. 84). O primeiro, segundo o autor, são as relações "verdadeiras" cuja manutenção acontece ou são "expressas" por meio de "conexões sociais estabelecidas em circunstâncias" de presença física ou "co-presença"; o segundo são os instrumentos de fomento da "fé" nos usuários.
É importante destacar que toda a vida em sociedade na pós-modernidade é baseada na fé. Como dirigir um veículo sem acreditar em sua eficácia? Como andar de avião sem acreditar ser o meio de transporte mais seguro? É por abalar a fé social nos sistemas peritos que a queda de uma aeronave causa tanto furor, além das vidas perdidas. Os impactos negativos causados pelo distanciamento do espaço-tempo (ânsia, incômodo) e pela aceleração dos fluxos de informação, torna necessária a confiança para viver (afinal, não é possível manter-se em constante estado de alerta ou perigo), e para adquirir confiança (certezas, bem estar) é preciso acreditar nos instrumentos de desencaixe. (DUMONT; GATTONI, 2003). Para Giddens (2002, p. 25) a "confiança põe entre parênteses o conhecimento técnico limitado" que grande parte das "pessoas" têm acerca da informação "codificada" que impacta no cotidiano a vida de todos.
É importante destacar que a atuação dos compromissos com e sem rosto estabiliza e possibilita uma reinserção (ou "reencaixe") no tempo-espaço das relações, informações e conhecimento. Afinal, a finalidade do "desencaixe" de contexto é o re-encaixe indica Giddens (1991, p. 83), que complementa o conceito de "desencaixe". Segundo o autor, o "reencaixe" transforma as "relações sociais" que foram retiradas de contexto ("desencaixadas") em conformidade com as "condições" de tempo-espaço "locais". É por meio do "reencaixe" que os "compromissos sem rosto" se transfiguram em relações presenciais relaciona Giddens (1991, p. 91).
Perceber a existência dos sistemas desarticuladores pode reduzir a alienação e tornar usuários e profissionais da informação mais cônscios, e assim, acessar e disseminar informação de maior qualidade. É preciso aproximar-se da realidade cada vez mais, e não o contrário. Na atualidade, as pessoas entram em contato com a realidade que existe por detrás dos "sistemas abstratos" apenas em "momentos decisivos" reconhece Giddens (2002, p. 187). Segundo o autor, em certos momentos se é obrigado proceder ao enfrentamento das "considerações" sobre o "funcionamento" dos "sistemas abstratos", reflexões que são mantidas, pelos próprios sistemas, distantes da "consciência" humana; nesses momentos se é forçado a "repensar aspectos fundamentais" da vida e de "projetos futuros". Por exemplo, em situações de morte, desemprego, doença na família, ao conhecer internamente fábricas, frigoríficos e organizações, ou seja, a verdade, a realidade.
Conhecimento e informação sobre o real pode mudar o rumo da sociedade. Pode evitar que as pessoas se sintam controladas por sistemas que não podem controlar. (GIDDENS, 2002, p. 161). Também pode-se evitar o narciso em cada um, um doente físico da modernidade, com personalidade distorcida e incapaz de obter o sentimento de segurança necessário para viver. (GIDDENS, 2002, p. 165).
Os usuários da informação fazem uso constante dos instrumentos de desarticulação do contexto, com finalidades tão múltiplas quanto os usos da informação. Dentre esses instrumentos, destacam-se as tecnologias da informação e a rede. É através de ambos, em especial os dispositivos móveis, que os usuários inauguram um fenômeno que também é vetor central do desencaixe: a ubiquidade. A seção seguinte aborda o papel da tecnologia e da ubiquidade na desarticulação dos contextos sociais, da informação e do conhecimento.
3.1 O papel da tecnologia e da ubiquidade no desencaixe de contexto
Existe forte relação entre a desarticulação do contexto, a ubiquidade e as tecnologias. São muitas as tecnologias que corroboram a transformação sobre as percepções espaço-temporal dos usuários. "De Masi (2003, p. 358-359) reconhece que o "telefone celular, a televisão e a internet" transfiguraram a praxe dos usuários com o tempo-espaço e estabeleceram "um sentido de ubiquidade", em outros termos, o poder da computação transfigurou a "nossa percepção do mundo". Seriam as percepções desarticuladas e construídas sobre informação e conhecimento desarticulados do contexto?
O uso do computador elevou a produtividade tanto na ciência como nas empresas, permitindo a desestruturação espaço-temporal dos processos e, ao mesmo tempo, a sua integração funcional através de fluxos de comunicativos capazes e centralizar e distribuir informações em escala planetária e em tempo real. (DE MASI, 2003, p. 351-352).
Mas na atualidade, dentre todas as tecnologias, quanto à questão do contexto e também de popularidade, destacam-se os DM. Tecnologia que transfigura o tradicional usuário da informação e o põe em constante movimento. O smartphone é a ferramenta mais utilizada para acessar. (IBGE, 2016; BRASIL, 2015). Assim, o consumo de informação está se transfigurando de forma notável (EVANS, 2011) pelo uso de dispositivos móveis. O consumo de informação se transforma juntamente com a educação, organizações, escolas, universidades, bibliotecas, arquivos, museus, enfim, com toda a sociedade. O consumo de informação reflete a sociedade como um espelho.
As tecnologias móveis promovem a conexão constante e fomentam a desarticulação do contexto. Pode-se afirmar que há desarticulação sem ubiquidade, mas não ubiquidade sem desarticulação. Os processos de desarticulação são intensificados pelo exercício da ubiquidade e pelo consumo de tecnologia e informação. Os smartphones se constituem num tipo de tecnologia diferente das demais, pela ampla disseminação e, em especial, por acompanhar o usuário em todos os lugares e permitir o exercício da ubiquidade. Capurro (2003) reconhece que o "telefone cria novos problemas sociais, econômicos, técnicos, culturais e políticos" ainda não enfrentados na "teoria e pratica". As novas tecnologias da informação:
Permitem manter relacionamentos a uma distância planetária [...]. Podemos ser [...] globais e locais [...] ubíquos e isolados [...] ao lado de modelos novos de comportamento que permitem manter relações de tipo econômico, jurídico e burocrático sem a co-presença física [...] Junto a novas oportunidades de trocas, conhecimentos [...] a sociedade da informação criará também novas solidões, novos egoísmos, novos estranhamentos. (DE MASI, 2003, p. 359).
O smartphone permite ao usuário estar em muitos lugares ao mesmo tempo - ainda que virtualmente; contudo, não é apenas o usuário que exerce a ubiquidade: a informação tem caráter ubíquo (caráter que se tornou mais evidente com a rede), está de fato em todas as pessoas, coisas, lugares, está contida na natureza; os usuários, por sua vez, são falso-ubíquos (transmitem a impressão de estar em muitos lugares concomitantemente) e sofrem as consequências de tal exercício; além dos usuários e informação, os fluxos de informação e as tecnologias também possuem níveis de ubiquidade. (GODOY VIERA; FORESTI, 2015). A ubiquidade impacta
no uso da informação e conhecimento e deve ser compreendida com precisão, especialmente por fomentar a desarticulação de contexto da informação.
Outros autores reconhecem o elo entre ubiquidade, desarticulação do contexto da informação e tecnologias. Segundo Araújo, Pinho e Córdula (2015) a instantaneidade da informação a desencaixa do contexto original, motivo pelo qual as notícias tornam-se fragmentadas e criam - ao invés de informar - apenas a sensação de "atualização" sobre os acontecimentos do mundo. Segundo os autores, isso acontece porque são disseminadas imediata e pontualmente apenas partes de "notícias" sem "contextualizações". Ou seja, o problema da ubiquidade (da informação e dos usuários) soma-se ao antigo problema do excesso de informação, ambos, em conjunto, podem promover mais desinformação e uma descontextualização generalizada.
Ainda não se conhece com precisão como os DM (além da ubiquidade ofertada aos usuários) impactam nas interações presenciais. (PRZYBYLSKI; WEINSTEIN, 2012). Przybylski e Weinstein (2012, p. 238) mostram que a mera presença de um DM "pode orientar os usuários a pensar em outras pessoas e eventos fora de seu contexto social imediato" e levar a atenção para longe da interação presencial real, ou seja, a atenção do usuário é retirada do contexto imediato em que está inserido. Uma situação de aprendizado pode ser particularmente negativa, como o acesso ao DM em sala de aula desvinculado do contexto de aprendizado do momento.
A ubiquidade impacta no uso da informação. Pode ser que seja estabelecida uma espiral da informação desencaixada (ou um fluxo da informação desencaixada), insumo dos usuários hiperconectados. Segundo Burford e Park (2014, p. 622-623) o "acesso constante à rede" e a "conexão ininterrupta à informação digital" são os vetores da desarticulação, do deslocamento dos ambientes e das circunstâncias dos usuários móveis. Os usuários mais conectados são os que mais precisam atentar ao contexto da informação e do conhecimento.
Também é preciso observar o contexto do novo usuário da informação (usuário móvel) para entender o fenômeno móvel. (BURFORD; PARK, 2014), compreendido aqui como o conjunto de transformações sociais advindas do uso generalizado de smartphones. O DM é a mais nova mídia de massa, verdadeira televisão de bolso com telefone acoplado. O contexto pode tornar-se problema em determinados ambientes virtuais, como as redes sociais, onde a:
Ausência de rigor das notícias e informações provenientes desse fluxo ininterrupto e instantâneo de informações que se instalou no cenário contemporâneo [...] independentemente da qualidade de seu conteúdo. [...]. Existe, assim, uma busca incessante por um grande volume de informações pontuais, descontextualizadas, pré-digeridas, pois tudo deve obedecer a um processo ininterrupto de oferta de novas informações sem o intervalo de tempo necessário capaz de formar opiniões e proporcionar um conhecimento aprofundado sobre determinados temas. (ARAUJO, PINHO; CÓRDULA, 2015).
Como consequência final, a desarticulação do contexto e a conexão constante podem tornar os usuários da informação mal informados, em plena sociedade do conhecimento. Seria mais um paradoxo da pós-modernidade? Na atualidade não existem motivos para esta falta de informação, mas aparentemente o conhecimento é cada vez mais reduzido, mesmo sobre temas disseminados e compartilhados amplamente. (ARAÚJO; PINHO; CÓRDULA, 2015). Segundo Araújo, Pinho e Córdula (2015) trata-se do "paradoxo" da sobrecarga e da "instantaneidade da informação". Paradoxo que é representado pela atuação da desarticulação do contexto via fluxos de informação desencaixada.
Existe impacto significativo das informações na pós-modernidade, inclusive sobre o próprio conhecimento, impactado em suas funções essenciais, como na ciência e na disseminação do conhecimento; por exemplo, através da miniaturização, normas e comércio de tecnologias, se transformam por si, as formas de adquirir, classificar, acessar e usar o conhecimento, ao mesmo tempo, a miríade de tecnologias da informação impactam também o fluxo de conhecimentos, da mesma forma que a mobilidade ou fluxos humanos. (LYOTARD, 2002).
Nessa transformação geral, a natureza do saber não permanece intacta. Ele não pode se submeter aos novos canais, e tornar-se operacional, a não ser que o conhecimento possa ser traduzido em quantidades de informação. Pode-se então prever que tudo o que no saber constituído não é traduzível será abandonado, e que a orientação das novas pesquisas se subordinará à condição de tradutibilidade dos resultados eventuais em linguagem de máquina. Tanto os "produtores" de saber como seus utilizadores devem e deverão ter os meios de traduzir nestas linguagens o que alguns buscam inventar e outros aprender. [...] com a hegemonia da informática, impõe-se uma certa lógica e, por conseguinte, um conjunto de prescrições que versam sobre os enunciados aceitos como "de saber". (LYOTARD, 2002, p. 4).
O usuário da informação na pós-modernidade sofre com a fragmentação da informação, que pode ser entendida como consequência da desarticulação do contexto. Segundo Mantovani e Dantas (s.d., p. 9) é preciso analisar as informações que atuam no "cotidiano" dos usuários via tecnologias móveis, pois o nível de "fragmentação e superficialidade do conhecimento" é grande, especialmente pelo fato da maior parte dos conteúdos possuírem caráter de "infoentretenimento". Isso é facilmente observável. Os DM tem se tornado uma verdadeira 'televisão de bolso'. Uma nova mídia que mistura redes sociais e entretenimento, vida pessoal e profissional, lazer e ensino.
Sites de notícias falsas e de entretenimento têm proliferado em rede, alguns inclusive com mentiras declaradas em tom de verossimilhança, outros tantos declaradamente de humor e de entretenimento. As redes sociais também são vetores importantes da desinformação, onde grupos fechados impossibilitam críticas. Já e sabido que as redes sociais e a internet são negativas aos países em desenvolvimento em muitos aspectos. (MOROZOV, 2011). As nações, da mesma forma que os usuários, precisam estar preparados para a rede e tecnologias associadas.
Poder-se-ia especular acerca de uma infinidade de consequências possíveis da desarticulação do contexto. Destarte, as relações sociais aparentemente são as mais afetadas. Pode estar emergindo um novo modelo de relacionamento humano. Pode estar se tornando mais penoso estabelecer relações sociais consistentes, se generalizando relações 'artificiais' ou quiçá, mais intensivas em informação. Novas interações edificadas sobre presenças e ausências, em contextos de informação que misturam o real e o virtual, e assim, alteram o uso do tempo e o papel do lugar pela ubiquidade; relações que podem corroborar com o entendimento da dinâmica entre usuários, informação e tecnologia (MANTOVANI; MOURA, 2012) na pós-modernidade.
Assim, foi explorado o papel da tecnologia e da ubiquidade acerca do contexto. A informação e o conhecimento são constantemente retirados de seu contexto, desencaixados e reencaixados no tempo-espaço ininterrupto, transformando a sociedade, relações sociais, ensino, organizações. Assim, também impactam nas unidades de informação e na atuação dos profissionais da informação, e não menos, na própria CI. Mas quais são os instrumentos de separação do tempo-espaço que interessam à CI?
3.2 Os instrumentos de desarticulação do contexto e a CI
São muitos os vetores da desarticulação do contexto na pós-modernidade. Na seção anterior foram caracterizados e relacionados a tecnologia, ubiquidade e informação. A seguir será explorada a questão do contexto numa tentativa de apontar ou classificar os instrumentos de desarticulação do contexto mais relevantes para a CI, pela aproximação aos conceitos de Giddens (1991; 2002) sobre os "mecanismos de desencaixe" e alguns objetos de estudo da CI.
Como visto anteriormente, os instrumentos de desarticulação do contexto podem ser de dois tipos. Os "sistemas peritos" segundo Giddens (1991, p. 35) são "sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que viemos hoje". É preciso compreender que:
Ao estar simplesmente em casa, estou envolvido num sistema perito, ou numa série de tais sistemas, nos quais deposito minha confiança [...] tenho "fé" [...] não é tanto neles [...] na autenticidade do conhecimento perito. [...] Quando estaciono o carro no aeroporto e embarco num avião, ingresso em outros sistemas peritos, dos quais meu próprio conhecimento técnico é, no melhor dos casos, rudimentar. Os sistemas peritos são mecanismos de desencaixe porque, em comum com as fichas simbólicas, eles removem as relações sociais das imediações do contexto. Ambos [...] pressupõem, embora também promovam, a separação entre tempo e espaço como condição do distanciamento tempo-espaço que eles realizam. Um sistema perito desencaixa da mesma forma que uma ficha simbólica, fornecendo "garantias" de expectativas através de tempo-espaço distanciados. (GIDDENS, 1991, p. 35-36).
A tecnologia, de forma geral, pode ser entendida como um sistema perito, pois reúne em si uma gama de conhecimentos técnicos e especialistas. Por sua vez, a informação e o conhecimento podem entendidos como fichas simbólicas, pois circulam independentemente das características dos usuários e podem ser usados de formas e intenções distintas.
A informação e o conhecimento circulam tal qual o dinheiro, exemplo claro do que se constitui uma ficha simbólica. Segundo Giddens (1991, p. 31-32) o dinheiro é uma forma de "retardar o tempo" e distanciar as "transações" dos locais de intercâmbios ou trocas, um jeito de distanciar o "tempo-espaço" e tornar possível a "realização de transações entre agentes amplamente separados no tempo e no espaço". Segundo o autor o dinheiro liga o "tempo-espaço" e associa "instantaneidade e adiamento, presença e ausência". Vale destacar que o mesmo ocorre com as trocas de informação e conhecimento. Os Quadros 2 e 3 apresentam os dois tipos de instrumentos no âmbito da CI.
Autores apontam o uso de sistemas especialistas por usuários da informação (DUMONT; GATTONI, 2003). Dumont e Gattoni (2003, p. 49) reconhecem o uso cotidiano de "mecanismos de segurança", representados pelos "sistemas peritos". Segundo os autores, é plenamente possível a virtualidade "representar [...] exacerbar ou [...] substituir" a praxe social dos usuários. De fato, tanto a rede quanto as demais tecnologias da informação, atuam como um sistema de conhecimento especializado, que fomenta a segurança e a fé dos usuários nesses mesmos sistemas. Também fomentam a segurança e a fé na sociedade como um todo.
Os compromissos virtuais também se manifestam no âmbito da informação. Existem informações que são obscuras, cujos significados não são evidentes (seja no trabalho, vida social ou pessoal) e os usuários não observam com atenção os sentidos envolvidos, muitas vezes nem mesmo às estruturas e materialidade envolvidas nos sistemas de informação, ainda que o sistema seja o centro de outras atividades que os afetam diretamente. (DUMONT; GATTONI, 2003). Segundo Dumont e Gattoni (2003, p. 48), são sistemas que suportam o "fazer" e formas particulares de lidar com os muitos contextos, e os usuários aceitam a existência e simplesmente confiam, mesmo sem entender a dinâmica envolvida.
As unidades de informação podem ser entendidas como sistemas de excelência técnica, afinal, envolvem uma série de conhecimentos técnicos, orientados ao processamento da informação e atendimento aos usuários. Igualmente computadores, DM, aplicativos, softwares. Por sua vez, os suportes de informação podem ser entendidos (conforme o caso) tanto como fichas simbólicas quanto sistemas peritos. A informação e o conhecimento podem ser entendidos como fichas simbólicas, mas muitos tipos de informação e conhecimento são inacessíveis ao leigo (verdadeiros sistemas peritos), por exemplo, as muitas complexas fórmulas matemáticas e químicas. Algumas informações são simplesmente intransferíveis aos leigos, impossíveis de transmitir com garantia de compreensão. O Quadro 3 mostra algumas fichas simbólicas de interesse da CI.
Apesar de Giddens (1991) ter publicado sua obra no ano de 1991 (antes mesmo da banalização da rede, computadores e smartphones) seus conceitos continuam muito atuais e foram pouco explorados, ao menos em CI. Possuem estreita relação com DM, informação, conhecimento, rede. Dumont e Gattoni (2003, p. 46-47)
reconhecem as definições de Giddens sobre "sistemas abstratos" e "desencaixe e reencaixe" como originais e como conceitos que corroboram com o conhecimento das mudanças sociais. Os autores verificam que "sob a ótica" Giddens evidenciam-se "consequências [...] na forma de buscar, usar e transmitir informações na sociedade contemporânea". Os autores ainda apontam a importância de observar os "contextos sociais" de acesso e uso da informação, caso contrário, "pesquisas e estudos" realizados em CI podem se tornar pobres.
Merecem destaque as observações de Giddens sobre a desorientação identificada nos indivíduos das organizações sociais nos dias atuais, como se esses tivessem sido apanhados em um universo de eventos que não compreendessem plenamente e que parecessem estar fora de seu controle. (DUMONT; GATTONI, 2003, p. 47).
Desta forma, é preciso descortinar as percepções de gestores, cientistas, educadores, profissionais da informação e usuários, sobre os instrumentos de desarticulação do contexto. A mobilidade compõe os novos fluxos de informação desarticulados e a possibilidade do exercício da ubiquidade. Emerge o novo usuário da informação, que pode estar sendo alienado do mundo pelo excesso. Aproximar-se da realidade pode ser mais difícil em tempos de mobilidade. Pela compreensão dos novos fluxos de informação e do entendimento do valor do contexto aos estudos de informação, a CI pode contribuir para dirimir a desarticulação do contexto e as nefastas consequências associadas.
4 Conclusões
Na pós-modernidade é preciso esforço e conhecimento para aproximar-se da realidade e compreendê-la. Cada vez mais, ações simples do cotidiano envolvem uma soma maior de conhecimentos e pequenas tarefas tornam-se cada vez mais complexas, apesar da aparente simplicidade. Complexidade que pode não ser percebida pelos usuários. Aproximar-se da realidade em tempos pós-modernos é fundamental. Lutar contra a alienação é também um dever da CI, por meio do provimento de informação de qualidade e de conhecimento verdadeiro.
O presente estudo mostra, antes de tudo, que o contexto vem antes da informação, tamanha a importância desse elemento no ensino e no ato de informar. Mostra também a importância do contexto para a CI. Foram reunidos textos de diversos autores da área de CI e afins que evidenciam a importância do contexto e corroboram o entendimento dos fenômenos informacionais.
O contexto é um problema de pesquisa para a CI (SARACEVIC, 1996). As pesquisas em CI devem procurar atentar ao contexto da informação, do conhecimento, do usuário, da unidade de informação ou organização. Ignorar o contexto quanto o assunto é informação e conhecimento é deixar de lado a amplidão do termo informação, o vasto universo dos usuários e da sociedade pós-moderna. Estudos de informação que ignoram a questão do contexto podem ser limitados. (DUMONT; GATTONI, 2003).
Assim, acredita-se que foi evidenciada a importância do contexto em Cie que os objetivos propostos foram alcançados. Foi realizado elo importante entre os conceitos de Giddens (1991) e a CI e alguns objetos de estudo da área. A pesquisa deu continuidade aos estudos anteriores e aprofundou um pouco mais a reflexão acerca dos conceitos relacionados, tão atuais na sociedade em rede. As reflexões podem contribuir com a epistemologia da área, de forma a reunir e aprofundar ainda mais os conceitos e teorias da CI.
Porém, ainda precisam ser realizados muitos estudos futuros, tanto teóricos quanto práticos. Compreender o impacto do desencaixe no ensino, na cognição dos usuários e conhecer os fluxos da informação desencaixada, se mostram importantes. Ao mesmo tempo, é importante entender como acontece o reencaixe da informação e do conhecimento nas organizações, ensino, cotidiano, e descobrir qual o papel das tecnologias nessa reinserção.
Por fim, é preciso evitar que as tecnologias e a ubiquidade, em conjunto com o excesso de informação, estressem os usuários psiquicamente, e assim, comprometam o poder de criticidade, caso contrário, a alienação ou ausência de orientação no mundo pode promover uma passividade em massa, de tal forma, que os usuários poderão perder o ‘norte’ e as referências mais básicas, juntamente com a visão acerca do poder que cada um tem na sociedade, sobre o que é possível fazer e como atuar na sociedade. (DE MASI, 2003).
Referências
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Dados dos autores
Fabricio Foresti
Doutorando em Ciência da Informação (2017) e Mestre em Ciência da Informação (2016) pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Biblioteconomia pela UFSC (2006) possui larga experiência na área de Arquivologia. É programador e web designer. Possui trabalhos em gestão da informação e conhecimento. Poeta e músico amador.
Gregório Varvakis
Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1979), mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (1982) e doutorado em Manufacturing Engineering - Loughborough University of Technology (1991). Atualmente é professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina, Depto de Engenharia do Conhecimento. Tem experiência na área de Gestão, com ênfase em Gestão de Processos, Gestão do Conhecimento e Gestão de Organizações de Serviços, atuando principalmente nos seguintes temas: inovação, gestão do conhecimento, produtividade, melhoria contínua, tecnologia de informação e fluxo informacional.
Angel Freddy Godoy Viera
Atualmente é Professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Recuperação Inteligente de Informação, atuando principalmente nos seguintes temas: recuperação da informação, aprendizagem de máquina, deep learning, mineração de texto, mineração de dados e processamento de linguagem natural.
Recebido - Received: 2016-06-10
Aceitado - Accepted: 2017-04-24
1 Nota do autor: Lao Tsé é autor da obra Tao te King: o livro que revela Deus. Era bibliotecário ou arquivista curador dos documentos da corte real chinesa na antiguidade. Diz a lenda que ele, em certo momento, se isolou numa caverna e saiu após 30 anos com este pequeno livro de enorme impacto, que seria a base de muitas religiões no futuro, inclusive o budismo. O livro foi escrito em faixas de bambu e é datado do século IV a.C.
2 ubiquitous learning model
3 LOCAL Location and Context Aware Learning.
4 Anthony Giddens, autor citado na seção sobre o desencaixe de contexto, é um famoso sociólogo inglês e está entre os mais importantes da atualidade. Foi ministro do governo de Tony Blair. O texto das autoras faz uma análise da obra de Giddens sobre o olhar da CI.