1. Introdução
A Educação, em seu panorama global, tem enfrentado adaptações e transformações decorrentes da incorporação de novas tecnologias nos procedimentos de instrução e desenvolvimento do conhecimento. Nesse sentido, as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) assumem um papel preponderante na esfera da comunicação e nas práticas quotidianas dos indivíduos na contemporaneidade, sobretudo nas considerações pertinentes ao contexto educacional, contribuindo para o processo de ensino e aprendizagem.
Na Educação, a utilização de recursos de Inteligência Artificial (IA) está em um processo constante de crescimento (Flores-Vivar & García-Peñalvo, 2023). Em dezembro de 2020, durante a realização do International Forum on AI and the Futures of Education Developing Competencies for the AI Era Synthesis Report, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) abordou aspectos relevantes concernentes à preeminência de assegurar uma utilização responsável e ética da IA. Tal abordagem visa, primordialmente, ao benefício da sociedade em sua totalidade e, ademais, busca potencializar as capacidades inerentes ao ser humano, em detrimento da perspectiva de substituí-los (Unesco, 2021).
Alguns estudos já evidenciam a importância da Educação na preparação das pessoas para um mundo onde a IA desempenhará um papel significativo (Holmes et al., 2022; Flores-Vivar & García-Peñalvo 2023; Grassini, 2023; Leite, 2023). Holmes et al. (2022) e Grassini (2023) enfatizam indagações sobre a necessidade de enfrentar os desafios complexos associados à IA na Educação, por exemplo, como na promoção de uma Educação digital e sobre a ética. O relatório Unesco (2021) sugere que a responsabilidade e o controle humano devem ser mantidos em todos os aspectos no uso e aplicação da IA em contextos educacionais ou em ambientes cotidianos.
Na visão de Zhai (2022) e Leite (2023), é possível avançarmos com a IA na Educação, desde que estejamos preparados para os desafios e oportunidades que esse recurso oferece. Nesse sentido, é factível conjecturar que a IA, quando inserida na Educação, especificamente nos processos de ensino e aprendizagem, pode ser utilizada para personalizar o ensino, fornecer feedback aos estudantes e automatizar (potencializar) tarefas administrativas.
Os esforços da UNESCO (2021) em relação ao uso da IA na Educação se aproximam com as orientações da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), documento oficial que determina os direitos e objetivos de aprendizagem para essa etapa da Educação no Brasil (Brasil, 2017). A BNCC enfatiza o desenvolvimento de competências gerais e habilidades essenciais para a formação integral dos(as) estudantes, por exemplo, compreensão textual, capacidade argumentativa e sabedoria para pesquisar, selecionar e interpretar informações (Brasil, 2017b).
Nesse sentido, à luz das contribuições do estudo conduzido por Farazouli et al. (2023), é plausível inferir que a inserção da prática de redação, aliada à integração de Tecnologias de IA, revela de maneira de promover a manifestação de uma série de habilidades e competências no âmbito da Educação. Essa abordagem ressoa particularmente com os fundamentos presentes no documento da BNCC que enfatiza a personalização da aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades cruciais para a formação abrangente de estudantes.
De acordo com os estudos de Farazouli et al. (2023) e Lima e Gomes (2022), as TDIC podem potencializar a qualidade da Educação, sendo fundamental compreender as percepções dos envolvidos e adotar estratégias eficazes para sua inserção nos processos de ensino e aprendizagem. Ambos os estudos corroboram a concepção de que as TDIC é um instrumento de valor inestimável com a capacidade de aprimorar substancialmente a qualidade da Educação. No primeiro estudo, se observa a pertinência de avaliar as percepções e experiências dos sujeitos envolvidos na utilização da IA para a produção de textos escritos; enquanto no segundo estudo, é salientado a imprescindibilidade de uma integração eficaz da tecnologia no currículo, com o intuito de conferir maior flexibilidade e eficiência aos processos de ensino e aprendizagem.
Considerando o potencial uso da IA no processo de ensino e aprendizagem, Leite (2023) destaca a capacidade do ChatGPT de fornecer respostas pertinentes no contexto do Ensino de Química. Ao considerar a aplicabilidade do ChatGPT no ensino de uma área relacionada ao Ensino de Ciências (no qual a Ecologia está inclusa), é possível inferir que suas implicações se estendem ao campo da Ecologia, uma vez que ambas as disciplinas compartilham conceitos e abordagens próximos no contexto educacional. Destarte, questiona-se sobre quais são as contribuições e limitações da IA, em especial os Chatbots, no aperfeiçoamento de redações sobre Ecologia produzidas por estudantes do Ensino Médio?
Neste contexto, delineamos o objetivo de nossa pesquisa como sendo o de analisar o potencial e as restrições dos recursos de Inteligência Artificial como instrumento auxiliar no Itinerário Formativo de Ecologia na perspectiva de estudantes e de uma professora, visando o aprimoramento das redações dissertativas-argumentativas elaboradas por estudantes do segundo ano do ensino médio em uma escola pública no Brasil.
2. Inteligência artificial
A IA tem potencial para promover transformações na maneira como ensinamos e aprendemos diversos conteúdos nas mais diferentes e variadas instituições acadêmicas, por meio de experiências de metodologias de ensino personalizadas para os estudantes (Zhai, 2022). Nesse caso, o tipo de aprendizagem personalizada se refere ao uso de TDIC para adaptar o conteúdo educacional e as experiências de acordo com as necessidades, habilidades e interesses individuais de cada estudante, dos objetivos definidos pelo(a) docente e, sobretudo, das demandas exigidas pela sociedade contemporânea (Oliveira & Leite, 2021).
De acordo com Zhai (2022), existem diversas maneiras de utilizar a IA para tornar o aprendizado personalizado, incluindo adaptação de conteúdo, recomendações específicas para cada estudante, orientações realizadas sob medida e identificação precoce das necessidades de aprendizado. Contudo, é importante salientar que, mesmo com os avanços na capacidade da IA de criar texto, realizar orientações sob medida e identificar necessidades de aprendizado personalizado, a IA ainda é, nesse contexto, um instrumento que executa atividades com base em padrões e dados preexistentes, sem a compreensão e criatividade humana; ela é, portanto, uma extensão da sociedade, refletindo e acelerando processos já existentes (Leite, 2023).
Na perspectiva de Leite (2023), a IA é essencialmente um instrumento que somente reproduz processos evidenciados na sociedade e realiza tarefas para as quais foi criada, com rapidez e, muitas vezes, alta precisão, superando o desempenho humano em algumas atividades e demandas específicas. Dessa forma, é possível conjecturar que a IA não possui compreensão ou consciência humana (ou sequer semelhante), sua capacidade está limitada apenas ao que foi programada/destinada para fazer. Zhai (2022) e Leite (2023) compreendem que a IA se refere à capacidade de computadores e máquinas executarem tarefas que normalmente requerem inteligência humana, como responder perguntas, tomar decisões e resolver problemas. Gabriel (2022, p. 56, grifo da autora), apresenta uma definição para IA sendo um “termo genérico que se manifesta de inúmeras formas distintas, compreendendo uma vasta gama de funcionalidades [...] que lida com o desenvolvimento de máquinas/computadores com capacidade de imitar a inteligência humana”. É importante destacar que a IA é um instrumento que desempenha essencialmente o papel de uma “mente pensante humana”, a fim de realizar tarefas de modo altamente eficiente, eficaz e significativamente preciso (Gabriel, 2022; Choi et al., 2023; Leite, 2023; Grassini, 2023). Todavia, necessita intrinsecamente da compreensão, consciência e ética de quem a usa.
Holmes et al. (2022) apresenta um desafio ético que requer uma análise cuidadosa e uma abordagem ponderada do uso de recursos de IA na Educação, uma vez que muitos recursos de IA podem agir de forma pouco transparente, onde as decisões são baseadas em algoritmos complexos e menos claros. Destarte, infere-se que a IA na Educação depende da coleta de dados pessoais de estudantes e professores para personalizar a experiência de ensino e aprendizagem, identificando padrões de desempenho e fornecendo feedback personalizado. No entanto, essa coleta de dados levanta preocupações significativas sobre privacidade, consentimento informado e proteção de dados sensíveis (Holmes et al., 2022).
Nesse sentido, Leite (2023) discute a complexidade da interação entre a IA e o papel do professor na construção do conhecimento. Embora os Chatbots, como o ChatGPT, possam oferecer suporte valioso ao personalizar os processos de ensino aprendizagem, os dados disponibilizados não informam a sua origem, dificultando o professor identificar se o estudante produziu determinado conteúdo ou apenas reproduziu o que recebeu da IA. Corroborando com este pensamento, Grassini (2023) destaca as questões éticas relacionadas ao uso inadvertido da IA na Educação. Um desses aspectos é a desigualdade acadêmica, na qual o uso inadequado de Chatbots pode gerar disparidades entre os estudantes. Estudantes podem recorrer a essas ferramentas para “produzir” conteúdos exclusivos, lhes conferindo uma vantagem injusta sobre seus colegas que não têm acesso aos recursos ou optam por não os utilizar, levantando preocupações éticas sobre equidade digital e uniformidade no ambiente acadêmico (Grassini, 2023). Outro aspecto abordado é o risco por parte dos estudantes que não compreendem completamente as capacidades e potencialidades dos recursos de IA, como o ChatGPT. Esses estudantes podem acabar utilizando a ferramenta de maneira inadequada, resultando, por exemplo, em plágio não intencional (Grassini, 2023).
A capacidade de uma IA se circunscreve estritamente àquilo para o qual ela foi programada e desenvolvida, baseada em processos pré-determinados e dados existentes. Segundo Pavlik (2023, p. 3), a IA se refere “à simulação da inteligência humana em máquinas que são programadas para pensar e agir como humanos. Essas máquinas são projetadas para aprender com seu ambiente e experiências e são capazes de adaptar seu comportamento com base nesse aprendizado”. É importante observar que a IA não manifesta a capacidade mental de compreender o ambiente em que está inserida, sequer de tomar decisões de forma autônoma, delineando, assim, uma distinção substancial com o pensamento humano.
2.1. IA na Educação - Ao nosso favor?
No livro “A Máquina das Crianças: repensando a Escola na Era da Informática”, Papert (2008) tenciona para uma visão considerada inovadora da Educação, evidenciando o protagonismo que a tecnologia assumiu no século XXI, em particular, os computadores, contrapondo assim a prática tradicional dos processos de ensino e aprendizagem, e, portanto, enfatizando a transformação do aprendizado.
Papert (2008) sugere que os estudantes de hoje deveriam utilizar instrumentos tecnológicos para criar, explorar e adquirir conhecimento de forma mais significativa em relação às demandas exigidas pela sociedade do século XXI. A teoria de Papert, o Construcionismo, destaca que os seres humanos aprendem melhor quando estão participando ativamente de todo o percurso e se encontram diretamente envolvidos na construção de conhecimento individual e coletivo. Ademais, Leite (2022) salienta que Papert infere que o indivíduo só está ativo e engajado nos processos de ensino e aprendizagem quando ele “põe a mão na massa”. Desse modo, Leite (2023) considera que a IA pode ser utilizada em favor da Educação, quando incorporadas no modo construcionista. Nessa perspectiva, Leite (2023) sugere que a IA pode ser utilizada para promover uma abordagem ativa de aprendizado, na qual os estudantes fariam a utilização da IA como um instrumento complementar em atividades curriculares, sejam elas de cunho experimental, de produções individuais e/ou coletivas, de avaliações formais e de exploração de variados ambientes/espaços.
A IA deve ser utilizada de modo crítico e reflexivo. Nessa perspectiva, é possível depreender que a IA pode ser usada como um meio para uma Educação transformadora, na qual os estudantes são incentivados a refletirem sobre questões sociais, desenvolverem pensamento crítico e ético sobre a IA na Educação e no mundo real. Destarte, a IA pode apoiar abordagens pedagógicas que capacitam o estudante a questionar, analisar e agir de maneira crítica em relação ao mundo ao seu redor, dado que, estas abordagens podem ser usadas para ampliar o diálogo e a conscientização, proporcionando recursos para aprofundar a reflexão crítica e envolver os estudantes em discussões sobre questões sociais, críticas e éticas.’
Um recurso de IA, que tem sido bastante utilizado em diferentes setores (incluindo na Educação) é o Chatbot. Um Chatbot é um programa de computador projetado para simular conversas com usuários humanos, especialmente pela Internet. De acordo com Aydın e Karaarslan (2022), os Chatbots são sistemas de softwares impulsionados por recursos de IA. Segundo Leite (2023), esse sistema foi projetado para gerar respostas de texto que se assemelham às impressões de um humano em interações de conversação com seres humanos. Em outras palavras, um Chatbot é um exemplo de sistema de IA capaz de participar de diálogos e conversas com pessoas, fornecendo respostas e interações de texto que simulam a capacidade humana de comunicação (Farazouli et al., 2023). Os Chatbots de IA datam da década de 1960 com o primeiro Chatbot ELIZA do MIT (Massachusetts Institute of Technology) que podia simular uma conversa (Farazouli et al. 2023).
Os Chatbots são amplamente utilizados em diversas aplicações, como atendimento ao cliente, criação de conteúdo dentre outras possibilidades, a fim de automatizar interações de texto e melhorar a eficiência em diferentes cenários de comunicação. Alguns mais conhecidos são: ChatGPT, ChatGPT Plus, Bard, Bing Chat, Llama 2, Claude 2 e LuzIA. O ChatGPT, Chatbot mais conhecido atualmente, é um grande modelo de linguagem “que gera sentenças convincentes imitando os padrões estatísticos da linguagem em um enorme banco de dados de texto coletado da internet” (Stokel-Walker, 2023, p. 620). Leite (2023) compreende o ChatGPT como uma derivação do modelo de linguagem GPT-3, salientando seu banco de dados com mais de 175 bilhões de parâmetros e sua caracterização como uma IA generativa. Outrossim, Farazouli et al. (2023) ressaltam a capacidade do ChatGPT de discernir padrões na internet e de gerar conteúdo original em contextos diversos. Os autores convergem em um ponto: enfatizam a aplicação da IA na concepção de Chatbots e modelos de linguagem avançados, que podem interagir com indivíduos de forma sofisticada e produzir conteúdo coerente em variados campos de atuação (Farazouli et al., 2023; Leite, 2023).
Choi et al. (2023), Grassini (2023) e Leite (2023), exploraram e evidenciaram as implicações da utilização da tecnologia avançada da IA, nesse caso, o ChatGPT, como uma possibilidade para o contexto Educacional. Grassini (2023) e Lo (2023) reconhecem que essa tecnologia tem o potencial de transformar a Educação, oferecendo capacidades sem precedentes, como a geração de texto semelhante ao humano e a facilitação de conversas automatizadas. Segundo Lo (2023), os Chatbots podem ser inseridos no contexto educacional atuando como um instrumento, utilizados por docentes e estudantes, para criação de materiais didáticos, fornecendo sugestões e desempenhando papel de “tutor” virtual, auxiliando na resposta a perguntas consideradas complexas e facilitando a colaboração. Já o estudo desenvolvido por Leite (2023), oferece proposições e axiomas sobre a importância de refletirmos no tocante ao uso adequado do ChatGPT, buscando, sobretudo, desenvolver o pensamento crítico dos estudantes; sublinhando a necessidade de orientações e ações adicionais para garantir que os Chatbots sejam utilizados de maneira ética e responsável por todas as pessoas.
Lo (2023) e Leite (2023) fazem ponderações sobre os desafios associados ao uso dos Chatbots na Educação, como a devolutiva destes com informações incorretas ou desatualizadas e o combate ao plágio - uma vez que podem ser usados para geração de materiais textuais. Lo (2023) recomenda que é necessário haver o desenvolvimento de ações, como a atualização de métodos de avaliação, políticas institucionais e o treinamento de professores e estudantes para lidar com o impacto do Chatbots no espaço escolar de forma responsável e ética.
Em síntese, os Chatbots têm potencial para impactar a Educação, particularmente no tocante à construção de dados, na avaliação e na aprendizagem, possibilitando contribuições nos processos de ensino e aprendizagem.
2.2. Novo Ensino Médio e Tecnologias suportadas por IA
Cercado de polêmicas, o Novo Ensino Médio (NEM) trouxe mudanças significativas para a Educação brasileira. O documento normativo que apresenta as diretrizes e os objetivos foi aprovado e entrou em vigência no ano de 2022 (Brasil, 2017). Todavia, a reforma referente ao NEM é criticada por priorizar essencialmente uma formação mais técnica em detrimento de uma formação mais propedêutica, o que atende exclusivamente aos interesses da sociedade capitalista ao contribuir para a formação de indivíduos essencialmente produtivos e se afastando do conceito de uma formação verdadeiramente integral, que considera todas as dimensões do desenvolvimento humano.
O NEM tem como objetivo tornar o ensino médio mais flexível e personalizado, de modo a atender às diferentes necessidades e interesses de todos os estudantes (Hernandes, 2019). Entretanto, o NEM foi inserido no contexto educacional brasileiro retirando a obrigatoriedade de diversas disciplinas, estabelecendo a obrigatoriedade de apenas três disciplinas: português, matemática e inglês (Brasil, 2017; Hernandes, 2019). Além disso, junto com o NEM foi introduzido os “Itinerários Formativos”, que são cinco currículos flexíveis a serem adaptados pelos sistemas de ensino de acordo com sua pertinência e disponibilidade. Esses itinerários Formativos devem permitir que os estudantes escolham parte de sua formação com base em seus interesses e objetivos, dentre as cinco opções disponíveis (Lima & Gomes, 2022).
No tocante ao NEM em escolas públicas, observamos a inserção da tecnologia no ambiente educacional, sobretudo, destacando a flexibilidade e eficiência inerente aos processos de ensino e aprendizagem (Lima & Gomes, 2022). Essas implicações sugerem que as escolas devem se adaptar para aproveitar os benefícios que as tecnologias podem oferecer nos processos de ensino e aprendizagem. A perspectiva futura indicada é que as escolas precisam se alinhar com essa abordagem, explorando o potencial das tecnologias como instrumento pedagógico auxiliar e complementar a fim de aprimorar a qualidade da Educação (Lima & Gomes, 2022).
Nesse sentido, Leite (2023), destaca que as tecnologias digitais, incluindo a inteligência artificial, estão tendo um impacto significativo na Educação, especialmente para a escrita acadêmica. As tecnologias digitais, especificamente o ChatGPT, podem ser usadas para melhorar as habilidades de escrita acadêmica das pessoas, fornecendo dicas e orientações (Farazouli et al., 2023). Contudo, Leite (2023) levanta questões sobre a qualidade do conteúdo gerado por IA e seu impacto na regulamentação de direitos de domínio intelectual. Além disso, o uso do ChatGPT para a criação de um trabalho acadêmico, como uma dissertação, propõe reflexões sobre se é a pessoa que faz as perguntas e fornece as informações necessárias para escrever o ensaio, ou é o software e a máquina que criam esse conteúdo? e se ele é avaliado quanto ao seu valor acadêmico e originalidade (Aydın & Karaarslan, 2022).
Acreditamos que é possível inserir a tecnologia de IA na Educação para aprimorar textos dissertativos-argumentativos produzidos por estudantes, como também diversas outras atividades de caráter avaliativo e/ou com a finalidade de analisar a aprendizagem de um estudante dentro dos processos de ensino e aprendizagem em sala de aula. Baseados em Aydın e Karaarslan (2022), Zhai (2022), Choi et al. (2023), Farazouli et al. (2023) e Leite (2023), são apresentadas algumas justificativas e razões pelas quais a inteligência artificial pode ser aplicada:
Suporte à escrita: Estudantes podem utilizar os instrumentos de IA para auxiliar na redação de seus textos, dado que, a IA pode sugerir ideias, apontar/corrigir erros gramaticais e ortográficos, melhorar a clareza e coesão do texto, e até mesmo fornecer exemplos de frases ou parágrafos relevantes;
Feedback instantâneo: Retorno imediato sobre o texto, ajudando os estudantes a identificarem tópicos que precisam de ajustes, proporcionando uma abordagem mais individualizada e autônoma ao aprendizado da escrita;
Desenvolvimento do conhecimento: A IA pode fornecer informações adicionais sobre os tópicos abordados nos textos, enriquecendo o conteúdo com dados e referências relevantes, como também favorece a ampliação do conhecimento;
Fomentar à criatividade: A IA pode ser usada para gerar ideias e inspiração para os estudantes, incentivando a criatividade na escrita.
Dessa forma, a partir dos pressupostos elucidados anteriormente, nosso estudo pretende aprofundar discussões no entendimento sobre os impactos e as limitações das tecnologias IA no contexto da Educação no processo de aprimoramento de redações dissertativas-argumentativas envolvendo o Itinerário Formativo de Ecologia produzidas por estudantes do segundo ano do Ensino Médio de uma escola pública no Brasil, levando em consideração as contribuições de Aydın e Karaarslan (2022), Zhai (2022), Grassini (2023), Farazouli et al. (2023) e Leite (2023), em relação ao uso da IA na Educação.
3. Percurso metodológico
Esse estudo é fundamentado na abordagem Qualitativa Interpretativa, que segundo Moreira (2011, p. 76), é caracterizada a partir da “(...) interpretação dos significados atribuídos pelos sujeitos às suas ações em uma realidade socialmente construída”. Além disso, este estudo adota a abordagem do tipo pesquisa-ação, que, de acordo com Moreira (2011, p. 91), na Educação, professores e estudantes “(...) são incentivados a questionar suas próprias ideias (...) suas próprias práticas e seus próprios contextos como objetos de análise e crítica”, buscando compreender e abordar questões sociais complexas e contextualizadas. Alicerçamos nossa análise em comparação com as contribuições de Moreira (2011), que estrutura um estudo qualitativo interpretativo por meio de processo sistemático hierarquicamente construído, envolvendo coleta, análise e interpretação de dados considerados significativos para um estudo científico, a fim de compreender e interpretar a perspectiva dos indivíduos envolvidos diretamente no estudo.
Desse modo, esta pesquisa ocorreu em uma turma de Ensino Médio do segundo ano, na disciplina “Ecologia Química” do Itinerário Formativo da escola. O estudo teve a duração de três meses, desde a elaboração da proposta, seguido do convite aos participantes (uma professora do Itinerário Formativo e 42 estudantes), aplicação da proposta e a coleta de dados. Antes da aplicação do estudo, em conformidade com os princípios éticos de pesquisa, foi disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) para os 42 estudantes participantes do estudo. No entanto, cinco estudantes não devolveram os termos devidamente preenchidos e assinados, o que inviabilizou sua inclusão na pesquisa; para a professora foi disponibilizado o TCLE informando sobre os objetivos, procedimentos e possíveis impactos da pesquisa, e que sua participação era voluntária, que foi devolvido preenchido e devidamente assinado. Ao final, participaram 37 dos 42 estudantes inicialmente convidados, juntamente com a professora do Itinerário Formativo, totalizando 38 participantes. Delimitamos a codificação para os estudantes em “E1”, “E2”, E3” e assim sucessivamente. Já para a professora delimitamos “PEQ” (Professora de Ecologia Química). Os dados coletados da professora e dos estudantes expostos neste artigo tiveram sua coleta e registro aprovados pelo Comitê de Ética (Número do CAAE: 71389123.5.0000.9547. Número do Parecer: 6.582.599).
Nesse contexto, a pesquisa foi dividida em três etapas, sendo elas:
A Primeira etapa consistiu em uma aula para explicação do conteúdo. Nesta etapa, foi ministrada uma aula abordando a interação do ser humano na comunidade e no ecossistema que o cerca, com ênfase em sua relação ecológica global. Foram exploradas as implicações das ações humanas na perturbação da estabilidade ecológica em escala global nessa aula.
Na segunda etapa, realizou-se a proposta da atividade avaliativa. Ao fim da aula, foi lançada uma proposta temática para a elaboração de redações com a seguinte temática: “As ações e relações dos seres humanos com o ambiente natural e a consequente desestabilização da Ecologia Global em uma perspectiva da Química”. A partir dessa temática, foi solicitado aos estudantes que elaborassem duas redações com a temática apresentada pela professora: a primeira redação a ser criada totalmente pelos estudantes; a segunda redação, que os estudantes utilizassem um recurso de IA para aperfeiçoamento das redações criadas inicialmente. A PEQ apresentou duas possibilidades de recursos de Inteligência Artificial para os estudantes, o “Bard Experiment” da Google e o “ChatGPT” da OpenAI, contudo reforçou que os estudantes poderiam utilizar o recurso mais adequado e que possuíssem maior facilidade acesso.
Por fim, na terceira etapa ocorreu uma entrevista em profundidade. Foi realizada uma entrevista em profundidade com a PEQ e com os estudantes, com o propósito de avaliar suas impressões e visões sobre a utilização de recursos de IA para melhorar redações (Quadro 1). Nas entrevistas em profundidade, o pesquisador tende a fazer perguntas mais abertas porque o objetivo é fazer com que o entrevistado fale amplamente sobre o assunto que está sendo investigado (Yin, 2014). As perguntas da entrevista em profundidade buscavam obter impressões, sentimentos e visões dos(as) estudantes e da professora sobre o uso da IA. Esse tipo de entrevista permite explorar questões complexas e subjetivas, como sentimentos, impressões e visões individuais e/ou coletivas (Yin, 2014). Para isso, foi utilizado um dispositivo digital de gravação de voz empregado como complemento à entrevista. Após a realização das entrevistas, as gravações de voz foram submetidas ao processo de transcrição e posterior análise.
Adotamos como instrumento analítico para análise das respostas da entrevista os pilares que fundamentam a Aprendizagem Tecnológica Ativa (ATA). Entendemos que a ATA, para além de um modelo explicativo que descreve uma possibilidade para uso de TDIC com Metodologias Ativas (Leite, 2018), é uma teoria de aspectos sobrepujantes para a Educação do século XXI, desde o uso de tecnologias em sala de aula até participação ativa de estudantes. Dessa forma, a análise das respostas dos entrevistados se atentou aos pilares da ATA (Leite, 2022).
Assim, nas próximas seções deste artigo, abordaremos a análise do uso de recursos de IA a partir dos pilares da ATA: papel do professor, do protagonismo estudantil, do suporte tecnológico, da aprendizagem e da avaliação. Além disso, com base nas respostas das entrevistas com os estudantes e professora examinaremos também as percepções e sentimentos. Acreditamos que isso pode nos oferecer insights sobre a direção que o uso da IA, especificamente dos Chatbots, podem tomar nos próximos anos.
4. Resultados e discussão
Inicialmente, abordaremos os recursos de IA (Chatbots) escolhidos por cada estudante e, em seguida, serão apresentadas as discussões interpretativas e comparativas com literatura especializada sobre as impressões, inquietações e percepções dos estudantes e da professora em relação ao uso da IA. Analisaremos as implicações que o uso da IA infere após a sua utilização como recurso complementar (auxiliar) nos processos de ensino e aprendizagem a partir das respostas dos estudantes e da professora.
No que diz respeito à escolha do chatbot por parte de cada estudante como instrumento auxiliador no aprimoramento do texto dissertativo-argumentativo, o primeiro item da entrevista tratou deste aspecto, visando estabelecer um registro detalhado dos tipos de chatbots escolhidos. O Gráfico 1 ilustra a distribuição dos recursos de chatbot adotados por cada estudante na pesquisa, fornecendo um panorama quantitativo dessa escolha.
Na subseção sequente desse estudo, a questão levantada com o propósito de catalogar as fundamentações subjacentes à escolha do Chatbot específico por parte dos(as) estudantes será abordada, com o intuito de aprofundar a compreensão das motivações que permeiam essa escolha, culminando em uma discussão fundamentada e relevante acerca desse processo.
Em relação às perspectivas e impressões sobre os impactos da IA (Chatbots) no aperfeiçoamento de redações, discutiremos as respostas das entrevistas realizadas com os estudantes e com a professora a partir dos pilares da ATA, assim como, procederemos à análise das razões subjacentes em referência à seleção particular de Chatbots por parte de cada estudante, visando uma análise mais aprofundada identificar as motivações que nortearam essa escolha.
4.1. Percepção dos estudantes
Quanto às respostas dos estudantes em relação às razões e às impressões da escolha de um determinado Chatbot, parecem sugerir que eles percebem a eficácia e clareza na forma como a IA funciona (Pergunta 1A). Algumas falas evidenciam estas percepções: “ela (IA) traz bastante luz quando a gente escreve os parágrafos [...] sinto que ela ajudou com eficiência” (E20), “[...] é perceptível a forma que a inteligência artificial trabalha, de uma forma eficaz e legível” (E1) e “foi muito eficiente usar ela para eu corrigir os erros de português e a apresentar mais dados de ecologia” (E32).
Os estudantes mencionados anteriormente reconhecem o papel fundamental desempenhado pela IA como um instrumento para a melhoria das redações. Essas respostas estão alinhadas com as premissas de Choi et al. (2023) e Leite (2023), que sustentam uma visão otimista da IA como um instrumento que pode beneficiar tanto estudantes quanto professores no aprimoramento dos processos de ensino e aprendizagem.
As respostas dos estudantes refletem a percepção positiva em relação à IA no tocante ao protagonismo que possuem, destacando sua eficácia na melhoria da escrita, clareza na apresentação de informações e correção de erros. Isso sugere que a IA foi compreendida como um instrumento valioso que os ajudaram a melhorarem suas habilidades e desempenho em áreas como escrita. Essas respostas corroboram a ideia de aprendizagem personalizada e eficaz no tocante à ATA, como mencionado por Leite (2022), à medida em que a IA auxilia os estudantes de acordo com suas necessidades individuais. É possível inferir que a autonomia e o protagonismo dos estudantes foram fortalecidos durante todo o processo pela capacidade da IA de fornecer suporte personalizado e eficaz em seus processos de aprendizagem. Estas impressões podem ser validadas a partir das considerações também de outros estudantes. Segundo E7 “[...] eu amei a forma como ele [Bard] me responde”, já E14 destaca que “(eu pedi tudo com muita paciência e bastante respeito. Ele (ChatGPT) me ajudou muito” e para E19: “se você for legal ela (LuzIA) te ajuda bastante”.
Entendemos, a partir da percepção dos estudantes (em resposta à segunda pergunta), que os professores também desempenham um papel fundamental na orientação dos estudantes, promovendo o uso ético e transparente da IA. Nessa perspectiva, os estudantes destacaram os seguintes aspectos: “[...] foi muito esclarecedor por parte da professora (Bard) ela me mostrou que o Bard só tem que responder e não responder corretamente. Ele deu o exemplo da rainha da Inglaterra (Elizabeth II)” (E2), “A professora mostrou o exemplo das redações que são nota máxima do ENEM, e me mostrou que elas podem melhorar, se souber usar a inteligência artificial” (E32). As respostas dos estudantes ressaltaram o papel essencial da professora como norteadora e facilitadora na inserção da IA em sala de aula. Os professores desempenham um papel crucial ao esclarecer o uso apropriado e ético da IA fornecendo orientação e instruções claras (Leite, 2023).
No contexto da fala de E2, a PEQ exemplificou o funcionamento prático da IA destacando casos como o da ex-rainha da Inglaterra, Elizabeth II, que ainda estava viva durante a interação com o Chatbot e Bard, apesar de ter falecido em 8 de setembro de 2022. Além disso, a professora demonstrou como a IA pode aprimorar redações de alto desempenho no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio, exame realizado no Brasil como uma forma de acesso ao ensino superior), mesmo aquelas que já obtiveram a pontuação máxima de 1000 pontos, ao sugerir melhorias para aperfeiçoar o texto.
Essas respostas evidenciam o papel crucial dos professores na compreensão e otimização do potencial da IA na educação, alinhando-se à visão de Leite (2022) sobre o papel dos professores diante das TDIC nos processos de ensino e aprendizagem. No modelo da ATA, o papel dos professores é de atuar como um mediador, norteador, auxiliar, capacitando os estudantes a utilizarem a IA de maneira eficaz e ética, promovendo o pensamento crítico e demonstrando como a tecnologia pode ser um recurso valioso para a aprendizagem (Leite, 2023). Isso ressalta a importância da formação e orientação que professores devem possuir no uso da IA para garantir que ela seja usada de forma a beneficiar todo o ambiente educacional (Leite, 2023).
No que diz respeito às dificuldades (Quais foram as principais dificuldades [ou desafios] na sua opinião?), os estudantes afirmaram que “Eu nunca usei um computador, foi estranho mexer em um com o Bard” (E13), “Não tenho internet em casa e a da escola não é boa” (E16), “[...] demorei pra fazer a minha redação porque tava [sic] usando o telefone de minha mãe” (E29) e “[...] se a escola tivesse computadores bons, seria mais fácil” (E36). As dificuldades apontadas pelos estudantes, como a falta de familiaridade com computadores, limitações no acesso à internet e a inadequação de seus dispositivos pessoais para a interação com a IA, são debatidas com os aspectos relacionados ao suporte tecnológico e à conectividade referente à IA, discutidas também no contexto da implementação da IA na Educação por Leite (2023). Os relatos dos estudantes refletem diretamente a necessidade crítica de uma infraestrutura tecnológica adequada e acesso equitativo à internet, especialmente no contexto de escolas públicas, onde a falta de recursos tecnológicos pode agravar as disparidades de aprendizado e aumentar a exclusão digital, escolar e social (Silva Neto et al., 2021). No entanto, é fundamental destacar que uma série de benefícios emergiram a partir das percepções de estudantes e da PEQ no que concerne à integração da IA na Educação. Essas perspectivas, embasadas na realidade da utilização da IA no ambiente educacional, não apenas corroboram as vantagens já identificadas por Choi et al. (2023), Farazouli et al. (2023) e Leite (2023), mas também fornecem uma visão tangível das oportunidades oferecidas por essa tecnologia inovadora.
Com base em dados e evidências destacadas no trabalho de Farazouli et al. (2023) ao emprego da IA na Educação, é possível constatar, em consonância com os relatos dos estudantes e da professora, que a incorporação da IA em sala de aula proporciona a capacidade de elaborar avaliações formais mais precisas e eficazes (como a escrita e aperfeiçoamento de redações), ao mesmo tempo em que oferece uma plataforma para a aprendizagem colaborativa (máquina-humano), na qual os estudantes podem ser engajados de forma mais proativa e autônoma no processo de construção de conhecimento (Pavlik, 2023; Leite, 2023; Farazouli et al., 2023).
Ao serem questionados sobre quais as principais contribuições do uso da IA para a construção de conhecimento, aprendizagem e avaliação (Pergunta 4), os estudantes opinaram que: “Tive acesso de várias informações de forma rápida e clara. Ela (IA) basicamente resumiu um monte [sic] de informações [...] só coloquei no meu texto” (E7), “aprendi bastante sobre o que é ecologia, sobre a matéria português que a professora dar [sic] aula aqui na sala. Achei a avaliação muito legal, foi divertido melhorar a redação e bem rápido” (E19) e “aprendi muito português, muitas coisas de biologia e química que fiz referência para a ecologia. Recebi respostas rápidas e fui ajeitando meu texto. [...] A avaliação que ele (IA) fez foi mais da redação em si, falou coisas interessantes, de avaliar eu acho.” (E30). Inferimos aqui que tanto as respostas quanto as visões apresentadas enfatizam a influência direta do professor na avaliação e no aprendizado dos estudantes. O uso da IA como instrumento complementar em sala de aula apresenta diversas implicações positivas, sobretudo nos processos de ensino e aprendizagem. Essa premissa corrobora com as perspectivas de Leite (2023), que destaca a personalização da aprendizagem, fornecimento de feedback imediato, envolvimento ativo de estudantes, avaliações formativas adequadas e análise de dados de forma mais precisa.
As respostas dos estudantes apontam diferentes benefícios decorrentes do uso da IA no aperfeiçoamento de redações e, para além, sobre a avaliação e a aprendizagem, incluindo o acesso rápido às informações, construção de conhecimento em diversas áreas, como ecologia, química e língua portuguesa, envolvimento ativo e engajamento na avaliação e melhoria na redação. Essas percepções evidenciam os pilares da ATA (Aprendizagem e Avaliação), conjecturando que a IA se revela um instrumento que pode acelerar o processo de construção de conhecimento, facilitar a compreensão e a aplicação do conteúdo, e tornar as avaliações mais envolventes e produtivas.
4.2. Percepções da professora
No tocante à visão da PEQ sobre o seu papel, refletem a importância da IA como uma ferramenta de apoio para o desenvolvimento das habilidades de cada estudante, a necessidade de orientação ética por parte dos professores e o reconhecimento da experiência positiva de cada estudante a partir da interação com a IA. A PEQ ao responder sobre suas impressões (Pergunta 1B), afirmou que “foi uma experiência bem vivenciada pelos estudantes, onde houve uma boa interação e reconhecimento que o aplicativo pode ajudar” (PEQ), enquanto para a segunda pergunta, a professora destacou que “Na produção de textos e verificações de ortografia, desde que o estudante tenha consciência de produzir a sua e aprimorar através da IA” (PEQ).
Com base nas respostas da PEQ, identificamos três aspectos relevantes relacionados à sua percepção sobre a utilização da IA pelos estudantes (Pergunta 2): (i) Reconhecimento de uma experiência positiva; (ii) Ênfase na construção do conhecimento; (iii) Valorização da orientação do professor. Os aspectos evidenciados nas respostas da professora refletem a importância da IA como uma ferramenta de apoio para o desenvolvimento das habilidades de cada estudante de modo personalizado e individual. Além disso, reforça a visão de Flores-Vivar e García-Peñalvo (2023), em relação à necessidade de orientação ética por parte dos professores. Isso está alinhado com a perspectiva de Zhai (2022) e Leite (2023) de que os professores desempenham um papel crucial como facilitadores na utilização da IA nos processos de ensino e aprendizagem.
Após analisar as respostas anteriores da PEQ, identificamos potenciais contribuições do uso da IA na melhoria da redação em sala de aula. De acordo com a professora, “os estudantes tiveram maior acessibilidade, de maneira rápida e instantânea” (PEQ), ou seja, a IA proporcionou aos estudantes maior acessibilidade de forma rápida e instantânea. A utilização da IA apresenta implicações significativas no aperfeiçoamento da escrita, englobando correções de gramática e ortografia, sugestões para aprimorar estilo e coerência e feedback imediato (Farazouli et al., 2023; Pavlik, 2023). Isso sugere que a IA personaliza os processos de ensino e aprendizagem, economiza tempo e oferece feedback instantâneo através de um sistema de aprendizado assistido.
Durante o processo, a PEQ identificou duas dificuldades emergentes (Pergunta 3): (1) A insuficiência de suporte tecnológico adequado; (2) A limitação no acesso à internet. A PEQ salienta que “foi difícil porque nem todos dispõem de computadores e telefones bons, nem de internet rápida”, evidenciando a falta de recursos computacionais de qualidade e conectividade rápida. Esta fala da professora é corroborada com as discussões de Silva Neto et al. (2021) sobre os desafios que são observados na inclusão digital de escolas públicas brasileiras, para além disso, representam os desafios a serem superados nas escolas públicas para adotarem a IA nas práticas pedagógicas. Essas dificuldades estão intrinsecamente ligadas ao terceiro pilar da ATA, que enfatiza a necessidade de uma infraestrutura tecnológica sólida e conectividade para promover uma formação personalizada aos estudantes. Portanto, as barreiras tecnológicas destacadas evidenciam a importância crítica de uma infraestrutura tecnológica robusta para possibilitar a contribuição das tecnologias na Educação (Leite, 2018).
No que diz respeito ao questionamento sobre quais as principais contribuições do uso da IA para a construção de conhecimento, aprendizagem e avaliação (Pergunta 4), na visão da PEQ “a avaliação vai depender da forma como o professor aborda o conteúdo e o que ele quer que o aluno aprenda”, destacando a importância do papel do professor na orientação e estruturação dos processos de ensino e aprendizagem. Na perspectiva de Leite (2023), a afirmação da professora indica que a avaliação do uso de Chatbots de IA na Educação está diretamente relacionada à abordagem pedagógica adotada pelo professor e aos objetivos de aprendizagem estabelecidos para os estudantes. Essa visão implica que a eficácia dos Chatbots como recursos educacionais está intrinsecamente ligada à maneira como são implementados e à forma como são empregados para atender às necessidades individuais dos estudantes. Sob essa perspectiva, os Chatbots oferecem oportunidades significativas para a personalização dos processos de ensino e aprendizagem, pois podem adaptar o conteúdo, propor sugestões, ajustar o ritmo e fornecer instruções de acordo com as preferências e necessidades de cada usuário (Lo, 2023; Zhai, 2022).
4.3 Reflexões sobre o uso de Tecnologias de IA
No tocante sobre as impressões, inquietações, sentimentos e visões referentes ao uso da IA (Pergunta 5), uma nuvem de palavras foi construída (Figura 1) destacando as principais reflexões e percepções dos estudantes e da professora em relação à integração da IA no aperfeiçoamento de redações ecológicas.
Nas respostas dos participantes sobre suas impressões, inquietações, sentimentos e visões acerca da IA nos processos de ensino e aprendizagem, as falas apontam para a importância de reflexões sobre a relevância do papel do professor na integração bem-sucedida da IA no contexto educacional, além do necessário protagonismo dos estudantes na construção do conhecimento, reforçando a presença dos pilares da ATA na execução de uma proposta que envolva a IA. Ademais, as palavras descritas na Figura 1 evidenciam os benefícios da IA na aceleração do acesso às informações, na promoção da personalização da aprendizagem, no fornecimento de feedback imediato, na ética e no engajamento ativo (Farazouli et al., 2023; Flores-Vivar & García-Peñalvo, 2023).
5. Considerações
Na busca por explorar os desdobramentos, impactos, limitações e desafios do uso da IA no contexto educacional para o aperfeiçoamento de redações sobre a ecologia por estudantes do ensino médio de uma escola da rede pública brasileira, esta pesquisa descreveu como a IA foi utilizada na melhoria das redações dissertativas-argumentativas a partir das impressões dos estudantes e da professora da disciplina de Ecologia do Itinerário Formativo.
As discussões apresentadas evidenciam alguns benefícios tangíveis da IA, incluindo, nessa perspectiva, o acesso ágil à informações claras, personalização da aprendizagem, feedback imediato, ética e engajamento ativo, corroborando com as descobertas de estudos anteriores (Flores-Vivar & García-Peñalvo, 2023; Leite, 2023). Neste contexto, à luz dos desafios e potencialidades da IA apontadas pela Unesco (2021) como um recurso complementar na Educação, se torna imprescindível que haja mais estudos que evidenciem aspectos éticos e de infraestrutura para a implementação da IA nas escolas, além da formação dos professores quanto ao uso deste recurso digital.
O uso da IA como recurso complementar na sala de aula tem o potencial de otimizar a construção de conhecimento, facilitar a aplicação do conteúdo e tornar as avaliações mais envolventes e produtivas. Estas percepções sugerem um horizonte promissor para o uso da IA na Educação, capaz de aprimorar a experiência educacional de estudantes e professores.
Por fim, a integração eficaz da IA na Educação demanda uma atenção constante às questões críticas específicas no cenário brasileiro, como a infraestrutura tecnológica disponível, a capacitação de professores e a consideração das implicações éticas. Destarte, para que a IA efetivamente contribua para a aprimoração da experiência educacional de estudantes e professores, é imprescindível um planejamento rigoroso e um compromisso inequívoco com práticas éticas na sua aplicação.