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Revista de Psicología (PUCP)

On-line version ISSN 0254-9247

Revista de Psicología vol.39 no.2 Lima July/Dec 2021

http://dx.doi.org/10.18800/psico.202102.001 

Artículos

Qualidade conjugal: paralelo entre a perspectiva de casais e instrumentos de medida

Marital quality: parallel between the perspective of couples and measuring instruments

Calidad marital: paralelo entre la perspectiva de parejas e instrumentos de medida

Qualité conjugale: parallèle entre la perspective des couples et les instruments de mesure

Bruna D’Andrea de Andrades1  * 

Marina Zanella Delatorre1  ** 
http://orcid.org/0000-0002-8475-6213

Adriana Wagner1  *** 
http://orcid.org/0000-0002-0629-2310

1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Brasil

Resumo

Buscou-se traçar um paralelo entre instrumentos que avaliavam a qualidade conjugal e a forma como os casais conceituam a qualidade de sua conjugalidade. Foram entrevistados 25 casais para conhecer aquilo que consideravam um relacionamento de qualidade. As entrevistas foram analisadas a partir das temáticas apresentadas pelos sujeitos e, posteriormente, foram comparadas com as variáveis que compunham os instrumentos mais utilizados para mensuração da qualidade conjugal. Foram identificados cinco temas que correspondem parcialmente aos conceitos avaliados pelos instrumentos. Detectou-se diferenças culturais nos instrumentos americanos quanto à valorização de alguns temas em detrimento de outros. Sugere-se que sejam realizadas mais pesquisas com a população latino-americana para compreender suas particularidades e desenvolver medidas que estejam de acordo com tais especificidades.

Palavras-chave: qualidade conjugal; avaliação; conjugalidade

Abstract

This study aimed to draw a parallel between instruments assessing marital quality and the way couples conceptualize their relationship quality. Twenty-five couples were interviewed to understand their ideas about a good quality relationship. The interviews were analyzed according to the topics couples presented, which were then compared with the concepts included in the instruments that measure marital quality. Five themes were identified, partially correspondent to the concepts assessed by the instruments. Cultural differences were found in the American instruments regarding the valuation of some themes to the detriment of others. Further research with the Latin American population is necessary to understand its particularities and to develop measures in accordance with these specificities.

Keywords: marital quality; assessment; marital relations

Resumen

Se buscó trazar un paralelo entre instrumentos que evalúan la calidad conyugal y la forma como las parejas conceptuan la calidad de su conyugalidad. Se entrevistó a 25 parejas para conocer lo que consideraban una relación de calidad. Las entrevistas fueron analizadas a partir de las temáticas presentadas por los sujetos y posteriormente se comparó con las variables de los instrumentos más utilizados para medir la calidad conyugal. Se identificó cinco temas que corresponden parcialmente a los conceptos evaluados por los instrumentos. Se han detectado diferencias culturales en los instrumentos estadounidenses en cuanto a la valorización de algunos temas sobre otros. Se propone que se haga más investigaciones con la población latinoamericana para comprender sus particularidades y desarrollar medidas que estén de acuerdo con tales especificidades.

Palabras clave: calidad conyugal; evaluación; conyugalidad

Résumé

Nous avons cherché à établir un parallèle entre les instruments évaluant la qualité du mariage et la manière dont les couples conceptualisent la qualité de leur conjugalité. Vingt-cinq couples ont été interrogés pour savoir ce qu’ils considéraient comme une relation de qualité. Les entretiens ont été analysés sur la base des thèmes présentés par les sujets, puis comparés aux variables composant les instruments les plus utilisés pour mesurer la qualité conjugale. Cinq thèmes correspondant partiellement aux concepts évalués par les instruments ont été identifiés. Des différences culturelles ont été détectées dans les instruments américains en ce qui concerne l’évaluation de certains sujets au détriment d’autres. Il est suggéré de poursuivre les recherches auprès de la population latino-américaine afin de comprendre leurs particularités et de mettre au point des mesures conformes à ces spécificités.

Mots-clés: qualité conjugale; évaluation; conjugalité

A conjugalidade vem sendo extensamente estudada por diversos autores desde o início do século XX, quando pesquisadores começaram a buscar entender o que tornava um casal feliz e o que o diferenciava de um casal infeliz (Féres-Carneiro & Diniz-Neto, 2010). As relações conjugais seguem sendo um tema de estudo relevante, a despeito das mudanças sociais que vêm ocorrendo nas últimas décadas. Ainda que o casamento continue sendo uma etapa a ser vivida no ciclo vital e integre os planos de vida dos jovens (Zordan & Wagner, 2009), tem aumentado o número de diferentes arranjos conjugais em nossa sociedade (Féres-Carneiro & Ziviani, 2009). Esses novos arranjos vêm sendo estudados e constata-se a coexistência de diversos modelos, que partem do clássico ao contemporâneo no que se refere à configuração e à estrutura conjugal e familiar (Heckler & Mosmann, 2016; Meletti & Scorsolini-Comin, 2015; Silva & Frizzo, 2014). Embora não haja clareza sobre o impacto desses novos modelos a longo prazo, é consenso que o declínio da qualidade conjugal leva ao desgaste do relacionamento e, em alguns casos, ao divórcio (Røsand, Slinning, Røysamb, & Tambs, 2014; Yeh, Lorenz, Wickrama, Conger, & Elder, 2006).

Apesar de haver um consenso sobre a importância da qualidade conjugal nos relacionamentos, não há um entendimento claro sobre o conceito de qualidade conjugal e a forma como este deve ser medido. Para além dos múltiplos termos utilizados na definição de uma boa relação conjugal, tais como satisfação, qualidade, ajustamento, felicidade e sucesso (Mosmann, Wagner, & Féres-Carneiro, 2006; Rosado & Wagner, 2015; Scorsolini-Comin & Santos, 2010), a qualidade conjugal tem sido considerada na literatura especializada tanto como um construto global, unidimensional, e de avaliação subjetiva (Hendrick, 1988; Norton, 1983; Schumm et al., 1986), como um processo complexo e multidimensional (Fletcher, Simpson, & Thomas, 2000; Locke & Wallace, 1959; Spanier & Cole, 1976). Ambas as perspectivas utilizam distintos termos para se referir à qualidade do relacionamento, muitas vezes de forma intercambiável e com definições imprecisas, tornando difícil distinguir os conceitos e identificar o que de fato está sendo avaliado.

Para alguns pesquisadores, a qualidade conjugal é composta apenas por uma dimensão de avaliação global e subjetiva do relacionamento e, por isso, é considerada equivalente à satisfação conjugal (Hendrick, 1988; Norton, 1983; Røysamb, Vittersø, & Tamps, 2014; Schumm et al., 1986). Outros pesquisadores, no entanto, consideram a qualidade conjugal como um construto multidimensional, mais complexo e abrangente do que a satisfação com o relacionamento. Há uma grande variedade de dimensões avaliadas nos instrumentos desse tipo: satisfação, comunicação, conflitos, sexualidade, amor, coesão, consenso, compromisso e investimento no relacionamento, entre outros.

Além da falta de uniformidade entre os estudos que abordam a qualidade conjugal, alguns autores argumentam que essa ampla variedade de dimensões se sobrepõe a outros construtos, cujas associações com a qualidade conjugal costumam ser investigadas, tais como a comunicação e a resolução de conflitos. Essa sobreposição pode fazer com que sejam obtidos resultados inflados, uma vez que os construtos correlacionados já estão incluídos na própria composição da qualidade conjugal (Funk & Rogge, 2007; Norton, 1983). É possível que essa desconexão entre definições, instrumentos e tipos de estudos seja resultado de uma tradição ateórica que caracterizou as pesquisas sobre qualidade conjugal nas últimas décadas, e que vem sendo amplamente criticada na literatura internacional (Knapp & Lott, 2010).

Nesse sentido, uma revisão dos instrumentos mais utilizados na avaliação da qualidade conjugal de 2005 a 2017 (Delatorre & Wagner, submetido) demonstrou que a maioria desses instrumentos são construídos com base puramente empírica, sem que haja uma teoria que sustente o construto em avaliação. Além disso, muitas escalas não apresentam nem mesmo uma definição clara de qualidade conjugal, ou apresentam definições desencontradas com os itens do instrumento. Diante desse cenário, pesquisadores têm apontado a necessidade de elaboração teórica, de instrumental coerente com essa elaboração, e de integração entre os resultados de diferentes abordagens de pesquisa (Fowers & Owenz, 2010; Knapp & Holman, 2010).

Uma forma de abordar esse problema é a utilização de modelos teóricos existentes que se propõem a explicar os relacionamentos conjugais para diferenciar a qualidade conjugal de variáveis associadas e contextualizar teoricamente o construto. O Vulnerability-Stress-Adaptation Model (Karney & Bradbury, 1995) explica a qualidade conjugal considerando três eixos: o contexto, a individualidade e os processos adaptativos. Esse modelo parte de uma perspectiva integrativa que reúne aspectos de diversos modelos anteriores para alcançar uma explicação mais completa sobre o desenvolvimento dos relacionamentos amorosos ao longo do tempo. Uma das vantagens do modelo é a possibilidade de estudar diferentes fatores relacionados à vida conjugal por meio da variação dos temas investigados dentro desses grandes eixos. Dessa forma, um pesquisador poderia estar interessado em estudar o papel do eixo individualidade na relação conjugal, considerando os valores pessoais de cada parceiro. Outro pesquisador poderia investigar o mesmo eixo analisando o papel da personalidade dos cônjuges no relacionamento (Karney & Bradbury, 1995; Mosmann et al., 2006). No que diz respeito à qualidade conjugal, o modelo é útil pois a definição de contexto, individualidade, e especialmente de processos adaptativos pode servir como parâmetro de diferenciação das variáveis, de forma a auxiliar na construção de uma definição para a qualidade conjugal.

Uma das limitações do Vulnerability-Stress-Adaptation Model, no entanto, é o fato de que satisfação e qualidade conjugal são consideradas sinônimos (Karney & Bradbury, 1995). Essa interpretação restringe a abrangência do construto de qualidade no relacionamento, o que vai de encontro ao movimento recente na literatura de considerar a complexidade do construto (Fowers & Owenz, 2010; Knapp & Lott, 2010).

Nesse contexto, a Teoria Triangular do Amor de Sternberg, embora não trate especificamente da qualidade conjugal, oferece um panorama abrangente baseado em componentes motivacionais, emocionais e cognitivos que contribuem para a explicação de como os relacionamentos amorosos se formam e se mantêm. O componente motivacional inclui o ímpeto à atração física, à sexualidade, e ao romance no relacionamento. O componente emocional refere-se à intimidade, definido como sentimento de proximidade, conexão e vínculo. Por fim, o componente cognitivo, decisão/compromisso, inclui a decisão de estar com o parceiro, a curto prazo, e o compromisso em manter o amor e o relacionamento a longo prazo. Embora esses componentes possam interagir em muitas trajetórias, a teoria postula que comumente a paixão seja responsável pelo envolvimento, sendo que sua intensidade diminui rapidamente. Já a intimidade costuma ter aparecimento mais lento, mas tende a se tornar mais ou menos estável em relacionamentos bem-sucedidos. Da mesma forma, a decisão/compromisso aparece de forma estável, sendo a principal responsável pela continuidade da união em períodos de crise no relacionamento (Sternberg, 1986).

Em contrapartida, os instrumentos disponíveis e as teorias utilizadas para o entendimento e avaliação dos casais são de origem americana e, por isso, podem refletir aspectos culturais relacionados ao contexto para o qual foram construídas. Quando esses instrumentos são adaptados, muitas vezes essa adaptação se restringe à tradução e à verificação da adequação da estrutura fatorial, sem uma investigação mais aprofundada sobre a correspondência do construto no contexto brasileiro. Além disso, é importante conhecer o que os próprios casais entendem e vivenciam como qualidade conjugal, a fim de compreender de forma mais aprofundada os diferentes aspectos do relacionamento e como esses aspectos compõem a qualidade conjugal. Assim, é fundamental compreender a qualidade conjugal no contexto brasileiro, de forma que esse entendimento se reflita nos instrumentos utilizados para avaliar o construto.

O presente artigo objetivou traçar um paralelo entre uma proposta de conceitualização da qualidade conjugal, baseada em modelos teóricos aplicados à vivência dos casais entrevistados, e os instrumentos de mensuração do construto. Para tanto, primeiramente foram realizadas entrevistas para identificar os temas que compõem o conceito de qualidade conjugal em casais que residiam no sul do Brasil. Em seguida, foi feito um levantamento dos temas incluídos em instrumentos que se propõem a avaliar esse construto, para que se pudesse traçar um paralelo entre ambos. Com isso, espera-se contribuir para a compreensão do construto no contexto local e fornecer um panorama para pesquisadores e clínicos quanto à abrangência dos instrumentos em relação à conceitualização proposta neste estudo.

Método

Participantes

Os participantes do estudo foram 25 casais que moravam juntos há, no mínimo, seis meses no momento da coleta de dados. Dentre os casais entrevistados, 19 eram heterossexuais e seis homossexuais (três femininos e três masculinos). A idade dos casais variou de 26 a 63 anos, e o tempo de união variou de sete meses a 36 anos. Quanto à situação conjugal, 15 casais eram casados oficialmente e 10 coabitavam com o companheiro, sendo que 15 participantes já haviam coabitado ou haviam sido casados antes da união atual. No que diz respeito a filhos, 13 casais tinham filhos juntos, enquanto que nove participantes tinham filhos com outras pessoas que não o companheiro atual. A escolaridade dos participantes era de nível fundamental (5), médio (13), superior (13) e pós-graduação (19). A renda familiar mensal dos casais variou de 2,25 a 58,69 salários-mínimos, sendo a média de 9,07 salários-mínimos. A maioria dos participantes declarou ter alguma religião (31), sendo a religião Católica a mais prevalente (15). Todos os participantes do estudo residiam no Rio Grande do Sul ou em Santa Catarina no momento da coleta de dados. As características dos participantes estão detalhadas na Tabela 1.

Tabela 1 Caracterização dos participantes do estudo 

Instrumentos e procedimentos de coleta dados

Solicitou-se que os participantes preenchessem uma ficha de dados sociodemográficos e fez-se uma entrevista semiestruturada com o casal. O roteiro da entrevista foi construído de forma a explorar a perspectiva dos casais sobre a qualidade conjugal. As questões foram propostas e discutidas entre as pesquisadoras responsáveis pelo estudo a partir das definições da literatura sobre qualidade conjugal e da sua experiência clínica com casais. Uma vez elaborado, o roteiro foi testado em entrevistas piloto com dois casais, conduzidas em conjunto por duas das pesquisadoras. Além das respostas à entrevista, solicitou-se aos casais uma avaliação sobre a clareza das questões e sugestões de possíveis novas perguntas. O roteiro foi considerado adequado e não houve modificações após esta etapa. A entrevista abordava a história do casal, as características que destacam no(a) parceiro(a), a demonstração de afeto no relacionamento, os momentos felizes e de dificuldades enfrentados pelo casal, a forma de manejo da tomada de decisões, a comunicação e os conflitos. Também foi perguntado ao casal sobre quais aspectos eles consideravam necessários para um relacionamento de boa qualidade. Todas as entrevistas foram realizadas na presença de ambos os cônjuges.

O acesso aos participantes se deu a partir da rede de contatos das pesquisadoras. Os critérios de inclusão na pesquisa foram estar em coabitação há no mínimo seis meses e ter idade mínima de 18 anos, a fim de abranger ao máximo a diversidade de arranjos conjugais, fases do ciclo vital e níveis socioeconômicos. Após o contato com os casais e a concordância em participar do estudo, foi agendada e realizada a entrevista. As entrevistas foram realizadas após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, duraram em média 45 minutos, sendo gravadas em áudio e posteriormente transcritas para análise. Os dados foram coletados como parte de um estudo maior que também investigava os estilos de apego dos cônjuges. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Análise dos dados

O estudo teve um delineamento qualitativo transversal, tendo como primeiro passo a análise temática (Braun & Clarke, 2006) das entrevistas. Foi feita a leitura e releitura do material a fim de familiarizar-se com o seu conteúdo. A partir dessa leitura, foram gerados códigos iniciais, identificando características interessantes no conjunto de dados e colhendo informações relevantes para cada código. Em seguida, os códigos iniciais foram agrupados em possíveis temas, gerando um mapa temático da análise como um todo. Os temas foram então definidos, nomeados, e agrupados em eixos temáticos que foram contextualizados na análise geral. Neste trabalho, foi analisado apenas o eixo correspondente à qualidade conjugal.

A qualidade conjugal foi diferenciada de aspectos associados à qualidade do relacionamento com base no Vulnerability-Stress-Adaptation Model (Karney & Bradbury, 1995) e na Teoria Triangular do Amor (Sternberg, 1986). Embora os autores do Vulnerability-Stress-Adaptation Model considerem apenas a satisfação como indicador da qualidade do relacionamento, a abordagem adotada neste estudo considerou a qualidade conjugal como um construto multidimensional. Por isso, foram incluídos temas inerentes ao relacionamento que não se enquadraram nos demais eixos de análise (individualidade, contexto e processos adaptativos) avaliados pelo Modelo. Assim, ainda que a perspectiva adotada tenha sido a de qualidade conjugal como um construto complexo, temas incluídos na avaliação da qualidade conjugal por alguns autores, como a comunicação, os conflitos e o consenso foram considerados como pertencentes ao eixo processos adaptativos, e não como componentes da qualidade do relacionamento.

Em um segundo momento, foi realizado um levantamento dos conteúdos avaliados pelos instrumentos sobre qualidade conjugal. A escolha desses instrumentos se deu com base em revisão de literatura prévia (Delatorre & Wagner, submetido), a partir da qual foram selecionadas as escalas mais utilizadas nos últimos 10 anos. Além disso, dois instrumentos construídos para o contexto brasileiro e que não integraram a revisão de literatura também foram incluídos na análise, sendo eles: AQUARELA-R (Andrade & Garcia, 2012) e EFS-RC (Wachelke et al., 2004). Esses instrumentos foram inseridos além da revisão da literatura (Delatorre e Wagner, submetido), por se tratarem de produções nacionais, tendo sido produzidos levando em conta o contexto brasileiro e que, talvez, não tenham sido encontrados na revisão anterior por se tratar de trabalhos relativamente recentes. Uma vez identificados os instrumentos, foram extraídas informações sobre a nacionalidade, o número de itens, as dimensões avaliadas e suas definições, e a descrição do conceito de qualidade conjugal que compunha cada instrumento. As temáticas identificadas na análise das entrevistas foram então comparadas ao conteúdo extraído dos instrumentos, a fim de verificar a correspondência entre os aspectos mencionados pelos sujeitos com aqueles que aparecem nos instrumentos analisados.

Resultados

Após a conclusão da análise temática, foram identificados cinco temas que compreendem as definições dos sujeitos entrevistados sobre Qualidade Conjugal: Compromisso e investimento na relação; Intimidade e cumplicidade; Paixão e atração pelo cônjuge; Expressão de carinho e afeto; e Satisfação conjugal.

Compromisso e investimento na relação

Este tema reúne os relatos sobre o compromisso e o investimento dos participantes, a fim de manter o relacionamento. Esse investimento requer o esforço, a dedicação e o interesse de ambos os cônjuges para que a relação tenha sucesso.

“A gente luta pra dar certo, a gente batalha pra dar certo, a gente tenta resolver pra dar certo, a gente se desentende, a gente briga, a gente discute, mas… (…) Empenho, dedicação... Esforço, o abrir mão” (Mulher, Casal 4, 41 anos, juntos há 5 anos e 2 meses).

“Mesmo em momentos difíceis como foi a época da crise com a minha família, ou da crise financeira (...) a gente sempre segurou as pontas junto” (Mulher 1, Casal 6, 37 anos, juntas há 5 anos e 6 meses).

Além disso, em diversas entrevistas os cônjuges relataram a importância do companheirismo do parceiro, bem como o apoio recebido mutuamente, para o bom andamento da relação.

“Ter pra quem contar, num momento de felicidade, num momento ruim. Você chegar e ter aquela pessoa pra dizer ‘ó, hoje aconteceu isso, aconteceu isso… de bom, isso de ruim’. E ter um ombro pra desabafar às vezes.” (Mulher, Casal 8, 43 anos, juntos há 20 anos e 10 meses).

“Foi bem importante pra nossa relação, caminhar juntos e tentar se apoiar nesses momentos [difíceis]” (Mulher, Casal 2, 32 anos, juntos há 7 anos e 6 meses).

“Ele chega da faculdade meia noite. Eu sempre tenho uma preocupação que eu sei que ele vai chegar com fome. Então sempre tem que deixar alguma coisa pra ele, nem que seja um sanduíche...(...) É uma forma deu demonstrar carinho, apoio por ele ter retomado os estudos...” (Mulher, Casal 23, 34 anos, juntos há 17 anos e 1 mês).

Alguns relatos também expressam a importância da decisão de continuar juntos e da clareza sobre o que cada um espera do relacionamento.

“Eu tenho clareza do que eu quero, ela tem clareza do que ela quer (...) A gente sabe, desde o começo a gente sabia que a gente queria alguém pra ficar junto, pra ter filho, pra ter família, pra... acampar nas férias, sabe.” (Mulher 1, Casal 6, 37 anos, juntas há 5 anos e 6 meses).

“Pelo sentimento de amor e de compromisso com a R., jamais pensei assim em desistir ou voltar pra uma zona de conforto que eu tinha lá na minha cidade” (Homem, Casal 13, 43 anos, juntos há 3 anos e 7 meses).

“Essas coisas externas elas nunca chegaram a um ponto assim de abalar o nosso casamento. Não, porque eu acho que o casamento foi uma coisa assim... Sólida, né? Uma coisa que a gente realmente queria” (Homem, Casal 11, 63 anos, juntos há 36 anos).

Intimidade e cumplicidade

Neste tema, os conteúdos que referem à intimidade dizem respeito à condição dos sujeitos de se conhecerem mutuamente, de forma a desmistificar aspectos idealizados sobre o(a) companheiro(a) e de facilitar a comunicação não verbal, a partir da familiaridade com os comportamentos e formas de expressão do outro em diferentes situações.

“Quebrou o encanto, quebrou a mágica (...) Daí tu começa a ver que existe uma pessoa ali. Porque tem a fase do romantismo sabe (…) quando tu está ali tu tá só pra pessoa inteiramente, não vai fazer nada errado. E a gente já passou dessa fase, e a gente consegue perceber e mapear já às vezes, as fases das pessoas, né” (Homem 1, Casal 5, 26 anos, juntos há 3 anos e 4 meses).

“E aí tu vai conhecendo também com o tempo o jeito da outra pessoa, né. Eu sei quando ele tá irritado. Aí,... eu vou lá pro meu cantinho (...) Daí quando volta não tem mais briga” (Mulher, Casal 9, 43 anos, juntos há 26 anos e 10 meses).

Esses conteúdos também expressam a possibilidade de compartilhamento de experiências e sentimentos bons e ruins com o(a) cônjuge, bem como de sentimentos de abertura ao companheiro(a), de proximidade, de cumplicidade, e de pertencimento à relação.

“Cumplicidade, né (...) de saber que tu pode dividir com a pessoa não só as coisas boas, mas também as ruins” (Mulher, Casal 2, 32 anos, juntos há 7 anos e 6 meses)

“Uma sensação de pertencer a alguém, de fazer sentido pra alguém, que é, é gostoso de sentir isso, sabe, isso me chamava a atenção” (Mulher, Casal 4, 41 anos, juntos há 5 anos e 2 meses).

Houve um relato em especial que destacou o lado negativo da intimidade, que também pode ser nociva ao relacionamento.

“A intimidade eu acho que é uma das coisas mais difíceis de tu lidar no relacionamento. Porque tu nunca sabes até onde é que tu pode ir, até onde é que tu não pode ir, porque a intimidade, ela pode acabar com o relacionamento (...) É uma linha invisível que tu tem que com o tempo, ir sentindo aonde tu pode chegar com a outra pessoa” (Homem 1, Casal 3, 36 anos, juntos há 10 meses).

Paixão e atração pelo cônjuge

Este tema diz respeito aos conteúdos relativos à estética e à beleza física do cônjuge; à paixão e à atração sexual pelo(a) companheiro(a) e à sexualidade vivenciada pelo casal, em especial no início do relacionamento.

“A atração física é a primeira coisa que atrai... dois seres humanos. (...) Tu não sente atração por alguém... pela inteligência dela, a primeira coisa que atrai é o físico...” (Mulher, Casal 9, 43 anos, juntos há 26 anos e 10 meses).

“Tem que haver a química. Essa química, no início do nosso relacionamento, pra mim né, teve, eu senti por ela” (Homem, Casal 9, 49 anos, juntos há 26 anos e 10 meses).

“Eu vejo assim ó, o casamento... Ele começa com uma fase de conhecimento, começa com uma química impressionante... é o que movimenta a gente” (Homem, Casal 11, 63 anos, juntos há 36 anos).

Há ainda relatos sobre a importância da atração e da sexualidade ao longo de todo o relacionamento.

“É, a paixão do início claro que não, mas existe ainda (…) Mas existe momentos que ela volta. Com certeza” (Homem, Casal 8, 53 anos, juntos há 20 anos e 10 meses).

A sexualidade foi mencionada por alguns entrevistados quanto ao espaço que ocupa no relacionamento conjugal. A presença da sexualidade é apontada como fundamental, porém sozinha não é suficiente para caracterizar uma boa relação.

“Tem que ter tesão (…) Senão é uma comunidade só de amigos. Acho que tem que ter... a coisa de pele tem que funcionar.” (Mulher 1, Casal 6, 37 anos, juntas há 5 anos e 6 meses )

“A gente foi numa festa e teve uma amiga que disse assim, ah, pra mim sexo no casamento pra mim tem que ser 80%. (…) que adianta eu fazer 80% de sexo e ser infeliz? Não adianta...” (Mulher 2, Casal 15, 48 anos, juntas há 18 anos e 7 meses).

Expressão de carinho e afeto

Este tema reúne relatos sobre a importância de demonstrar amor, carinho e nutrir afeto pelo(a) companheiro(a). As demonstrações de afeto abrangem uma larga variedade de comportamentos, como passar tempo e fazer coisas juntos, conversar, andar de mãos dadas, trocar abraços, beijos e carícias.

“Tá no sofá, a gente tá junto, senta, toma chimarrão, os dois tão perto, os dois conversam, a gente se abraça, a gente se beija” (Homem 1, Casal 5, 26 anos, juntos há 3 anos e 4 meses).

“A gente é muito do “eu te amo”, né. Antes de sair, não sai sem dar um beijo (...) dar boa noite (...) E de dizer eu te amo. “Eu te amo” com bastante frequência, assim, diariamente a gente se diz eu te amo.” (Mulher, Casal 18, 33 anos, juntos há 8 anos e 5 meses).

Demonstrar preocupação e cuidado com o outro, lembrar de datas importantes para o casal, dar presentes e fazer pequenos agrados ao cônjuge também foram referidos como formas de demonstração de carinho.

“A gente sempre procura cuidar da gente mesmo, aquela questão de namoro de sempre, sempre, sempre, sabe? Aqueles eternos namorados, sabe? Porque eu sou muito carinhoso e ela também” (Homem, Casal 10, 47 anos, juntos há 14 anos e 1 mês).

“Uma coisa que marca muito, que é um hábito que a gente foi construindo e, desde o início da nossa relação, é que a primeira que vai escovar os dentes já deixa a pasta na escova pra outra. Se tu fez alguma coisa que a outra não ta legal, tu já sente por ali (risos)” (Mulher 1, Casal 14, 51 anos, juntas há 11 anos e 10 meses).

“Bah, e agradar. Eu gosto de dar presente pra R.” (Homem, Casal 13, 43 anos, juntos há 3 anos e 7 meses).

Houve casais que apontaram o romance e o próprio amor no relacionamento com sentido utópico e idealizado, insuficiente para sustentar o relacionamento.

“Essa coisa do cupido, essa coisa romântica, ela não existe (...) Essa coisa romântica no sentido utópica assim, né, de encontrar a pessoa perfeita” (Homem 1, Casal 5, 26 anos, juntos há 3 anos e 4 meses).

“É claro que tu tem o amor, mas o respeito e a consideração, isso é essencial. Pode existir um pouquinho menos de amor (...) mas não pode existir um pouquinho menos de respeito” (Homem, Casal 11, 63 anos, juntos há 36 anos).

Satisfação conjugal

Este tema reúne a avaliação que os sujeitos fazem do relacionamento. As avaliações se referem aos momentos (atuais ou passados) do casal, ao relacionamento como um todo e ao impacto da relação na própria vida.

“Se tu me perguntares assim (…) Vamos começar de novo? Bota a fita no começo. Que que tu quer fazer? Tu quer fazer o que tu fez ou alguma coisa diferente? Não, eu quero fazer o que eu fiz” (Homem, Casal 11, 63 anos, juntos há 36 anos).

“É sensacional. A minha vida entre antes de conhecer a R. e depois, eu sou uma outra pessoa, eu sou um outro E. (...) sou muito feliz. Quisera eu ter conhecido ela na adolescência, sabe (...) A gente teria vivido muito mais coisa junto” (Homem, Casal 13, 43 anos, juntos há 3 anos e 7 meses).

“Eu curto todos os momentos. Até as brigas (risos), as discussões, as felicidades, os abraços, os beijos... Então, eu sempre digo, eu estou há 19 anos feliz” (Mulher 2, Casal 15, 48 anos, juntas há 18 anos e 7 meses).

Houve diferentes parâmetros de avaliação do relacionamento, bem como diferentes formas de comparação com o próprio relacionamento e com outros casais.

“Pra mim ta melhor do que quando a gente começou, né”. (Mulher, Casal 20, 38 anos, juntos há 21 anos)

“É que tu dizer 10 é aquele casal que nunca briga, que nunca diverge, que nunca discute, que nunca tem opinião diferente. Então não considero que seja maravilhoso, porque sempre tem, sempre tem alguma divergência em alguma situação, sempre tem.” (Mulher, Casal 9, 43 anos, juntos há 26 anos e 10 meses).

“A gente ta num caminho que a gente almejava, que a gente queria. Então é só seguir nesse caminho e manter o nível 10 (risos)” (Homem, Casal 19, 38 anos, juntos há 4 anos e 8 meses).

Alguns casais mencionaram o equilíbrio do relacionamento, pontuando-o com momentos bons e ruins, facilidades e dificuldades.

“Não é ótimo. Mas ele é bom. Ele é de qualidade. Pra ótimo... Seria aquela coisa que um não precisa nem falar com o outro, né, já ta tudo acontecendo. Mas é uma relação muito tranquila, assim” (Mulher 1, Casal 14, 51 anos, juntas há 11 anos e 10 meses).

“Eu acho que bom pra ótimo. Claro que perfeito assim eu acho que não existe, não é um filme, né? Mas... Entre momentos ruins e bons, eu acho que tem mais bons” (Homem, Casal 22, 34 anos, juntos há 13 anos).

“É um relacionamento bom, é como eu falei, a gente tem altos e baixos, né” (Mulher, Casal 23, 34 anos, juntos há 17 anos e 1 mês).

Esses cinco temas expressam a articulação entre a percepção dos casais entrevistados e os modelos teóricos que basearam este estudo. Assim, propomos uma conceitualização de qualidade conjugal composta pelos temas: Compromisso e investimento na relação; Intimidade e cumplicidade; Paixão e atração pelo cônjuge; Expressão de carinho e afeto; e Satisfação conjugal. A partir disso, levantou-se as variáveis que compunham alguns dos instrumentos destinados a avaliação deste construto. Os instrumentos analisados são detalhados na Tabela 2.

Tabela 2 Detalhamento dos instrumentos analisados 

Na Tabela 2, observa-se que o número de itens avaliados varia de 3 a 46, 60% dos instrumentos são originários dos Estados Unidos e a metade das escalas analisadas são unidimensionais, avaliando a qualidade conjugal de forma global ou incluindo apenas a dimensão de satisfação. Já nos instrumentos multidimensionais, nota-se que há pouca homogeneidade sobre as dimensões incluídas. As dimensões avaliadas por esses instrumentos são parcialmente correspondentes aos temas identificados nas entrevistas dos casais. Os temas Intimidade e cumplicidade e Compromisso e investimento na relação aparecem apenas na AQUARELA-R, enquanto que a DAS, a AQUARELA-R e a ESC avaliam dimensões similares ao tema Expressão de carinho e afeto (expressão de afeto, amor, e aspectos emocionais). Da mesma forma, o tema Paixão e atração pelo cônjuge aparece na AQUARELA-R (relacionamento sexual) e na EFS-RC (satisfação com atração física e sexualidade). Finalmente, o tema Satisfação conjugal aparece em oito das dez escalas avaliadas, sendo cinco unidimensionais e três multidimensionais.

Discussão

Este estudo buscou traçar um paralelo entre uma proposta de conceitualização da qualidade conjugal, baseada em modelos teóricos aplicados à vivência de casais do sul do Brasil, e o conteúdo avaliado por um conjunto de instrumentos que se propõe a medir esse construto. Foram identificados cinco temas referentes à qualidade conjugal: Compromisso e investimento na relação; Intimidade e cumplicidade; Paixão e atração pelo cônjuge; Expressão de carinho e afeto; e Satisfação conjugal. Esses temas são parcialmente correspondentes às dimensões avaliadas pelos instrumentos.

Os temas identificados se referem a conceitos bastante estudados na literatura sobre conjugalidade, embora nem sempre incluídos como parte da qualidade do relacionamento. O tema Compromisso e investimento na relação é correspondente à dimensão de dedicação pessoal como definida por Stanley e Markman (1992), em que cada parceiro busca melhorar o relacionamento, investindo na relação, abrindo mão de interesses individuais, integrando objetivos pessoais ao relacionamento e buscando o bem-estar do companheiro. Esse aspecto do relacionamento é fundamental, uma vez que promove ações em benefício do casal, e não apenas de um dos parceiros, a partir de uma perspectiva de longo prazo da relação (Stanley, Rhoades, & Whitton, 2010). Essa avaliação do relacionamento, considerando um período de tempo estendido, pode ter um papel importante na superação de momentos de crise (Stanley et al., 2010; Sternberg, 1986).

De fato, um estudo nacional utilizando a Teoria Triangular do Amor demonstrou que o compromisso tende a ser um fator preponderante em relacionamentos de média e longa duração e está associado à satisfação conjugal, embora a intimidade seja o fator que mais fortemente se correlaciona à satisfação (Rizzon, Mosmann, & Wagner, 2013). A intimidade é apontada por Sternberg como uma variável de natureza emocional central entre os componentes do amor, importante no longo prazo e relativamente estável. Para os participantes deste estudo, a Intimidade e cumplicidade foi composta não apenas pela proximidade, mas também pela facilitação da comunicação e pela capacidade de predizer os comportamentos do outro. A Teoria Triangular do Amor aponta que esse fenômeno é parte da acomodação entre os parceiros e que, com o passar do tempo, a intimidade passa a ser latente, aumentando a proximidade e o vínculo entre os parceiros, embora a manifestação comportamental diminua (Sternberg, 1986).

Assim como a Intimidade e cumplicidade, o tema Expressão de carinho e afeto também é de natureza emocional. Embora teoricamente seja menos central em comparação à primeira, a expressão de afeto, preocupação e cuidados com o companheiro podem ter um papel importante na formação do vínculo e construção da intimidade no início do relacionamento. Também é possível que, no decorrer da relação, essas manifestações gradativamente ocupem o espaço deixado pela redução da intimidade manifesta, por meio de demonstrações cotidianas de carinho e cuidado. Esse aspecto parece ser particularmente importante na cultura brasileira, que preza pela maior proximidade nas relações em comparação à cultura americana, por exemplo. Isso fica evidenciado pelo fato de que apenas um instrumento americano, a DAS (Spanier, 1976), apresenta uma dimensão de avaliação da expressão de afeto, sendo que essa dimensão foi retirada da versão revisada do instrumento.

Ainda assim, alguns casais relatam divergir sobre as formas e a intensidade das manifestações de carinho, indicando que outros fatores podem estar associados a este aspecto do relacionamento, como as características individuais dos cônjuges. Além disso, o relato de alguns casais aponta para uma desmistificação do amor romântico, afirmando que apenas o amor não é suficiente para manter o relacionamento. Apesar disso, esses mesmos casais reconhecem a expressão de carinho e afeto como um fator importante para a qualidade do relacionamento.

Já o tema da Paixão e atração pelo cônjuge apareceu de forma mais associada a determinados períodos do relacionamento. A paixão e a valorização da estética remetem principalmente ao período de enamoramento e ao início do relacionamento. Embora esses aspectos se tornem menos importantes no decorrer do tempo, os participantes referem que eles ainda podem estar presentes após vários anos de convivência. O relato dos participantes vai ao encontro de outros estudos nacionais (Rizzon et al., 2013) e da Teoria Triangular do Amor, indicando que a paixão possui um componente psicofisiológico e, por isso, pode iniciar e atingir seu pico de forma acelerada, mas também decai de forma rápida, e eventualmente alcança um nível mais estável (Madey & Rodgers, 2009; Sternberg, 1986). Já o sexo, o desejo, e o contato físico são apontados como presentes e importantes, embora possam ser menos relevantes do que outros aspectos do relacionamento. Essa percepção dos casais é coerente com dados de outros estudos apontando que, em termos de satisfação conjugal, a qualidade das relações sexuais e o clima afetivo entre o casal são mais importantes do que a frequência das relações sexuais, embora esta última esteja relacionada à satisfação sexual (Schoenfeld, Loving, Pope, Huston, & Stulhofer, 2016).

Por fim, o tema Satisfação conjugal pode ser entendido como uma avaliação global do relacionamento, de forma semelhante ao conteúdo avaliado pelas escalas unidimensionais, uma vez que expressa atribuições de valor e satisfação com a relação. A avaliação do relacionamento inclui um critério de preferência e um critério de enaltecimento, geralmente tomando outros casais como parâmetro (Norton, 1983). Neste estudo, os resultados indicam que os parâmetros de avaliação envolveram a comparação de diferentes momentos no próprio relacionamento, a utilização de outros casais como referência ou “modelo de perfeição” e, ainda, a existência de tranquilidade e equilíbrio na relação. Assim, é possível que esses critérios também estejam sendo considerados nas respostas dadas pelos cônjuges a perguntas que envolvem a avaliação do relacionamento nos instrumentos de autorrelato.

Dessa forma, nota-se que os resultados obtidos a partir das entrevistas são coerentes não apenas com os modelos teóricos adotados, mas também com os achados de outros estudos nacionais e internacionais sobre a conjugalidade. Aplicando o entendimento fornecido pela Teoria Triangular do Amor (Sternberg, 1986) aos relatos dos casais, pode-se pensar que a paixão e atração pelos cônjuges seja um fator primordial para o estabelecimento de um vínculo mais profundo entre o casal. Esse vínculo se expressa na intimidade entre os cônjuges, que fortalece a relação emocionalmente e lança os aspectos sexuais para o segundo plano, embora estes últimos continuem presentes e importantes ao longo do tempo. Pode-se supor que esse fortalecimento ande lado a lado com o investimento e com o compromisso, que por sua vez é importante para a manutenção da relação nos momentos de crise. Uma hipótese que extrapola a teoria de Sternberg é a de que a expressão de afeto possa assumir o papel de suprir as necessidades emocionais dos cônjuges à medida que a intimidade torna-se latente, embora esse aspecto seja importante em todas as fases da relação.

É interessante notar que alguns dos temas identificados neste estudo também têm correlatos em outros modelos explicativos do relacionamento, como os modelos baseados na Teoria das Trocas Sociais (Compromisso e investimento na relação) e a Teoria do Apego (Intimidade e cumplicidade; Expressão de carinho e afeto). Essa correspondência é esperada, já que o Vulnerability-Stress-Adaptation Model é resultado da integração desses e outros modelos (Karney & Bradbury, 1995).

No que diz respeito aos instrumentos, chama a atenção o fato de que muitos são unidimensionais, e, portanto, medem apenas uma porção do construto de qualidade conjugal conforme definido neste estudo, a satisfação conjugal. A satisfação, portanto, é o elemento mais consensual entre os componentes do construto, uma vez que também foi avaliada por três instrumentos multidimensionais. As demais dimensões, contudo, não aparecem de forma homogênea nos instrumentos. Muitas vezes, conceitos similares aparecem com nomes diferentes, ao passo que a mesma dimensão por vezes é operacionalizada de forma distinta.

O tema Expressão de carinho e afeto, por exemplo, foi identificado em três escalas. Na DAS, esse tema representa o carinho e a disponibilidade para relações sexuais (Spanier, 1976) e, portanto, agrega dois temas conforme a definição deste estudo. Já na ESC há alguns itens que referem o cuidado em relação ao companheiro, no entanto, alguns desses itens são parte da dimensão de interação, enquanto que a dimensão de aspectos emocionais tem foco mais individual (ex.: a forma como o companheiro se comporta quando está triste) (Dela Coleta, 1989). Por fim, a AQUARELA-R inclui alguns dos elementos identificados no tema Expressão de carinho e afeto, relacionando o amor ao companheirismo, à reciprocidade, ao afeto e ao carinho (Andrade & Garcia, 2012).

É interessante notar que, exceto pela DAS, somente os instrumentos latino-americanos fazem menção aos aspectos afetivos. De forma semelhante, os temas da sexualidade, intimidade, e compromisso foram abordados apenas pelos instrumentos brasileiros, embora algumas questões sobre sexualidade estejam incluídas na dimensão de expressão de afeto da DAS. Dentre os instrumentos brasileiros, a EFS-RC considera alguns dos elementos encontrados no tema Paixão e atração pelo cônjuge, como a estética e o contato físico entre os cônjuges (Wachelke et al., 2004). Já a AQUARELA-R, por se tratar de um instrumento baseado em diferencial semântico, solicita a atribuição de adjetivos a cada um desses três aspectos (relacionamento sexual, intimidade, comprometimento) deixando que o respondente interprete livremente o que cada um significa (Andrade & Garcia, 2012). Esse formato dificulta a comparação com os resultados deste estudo em mais detalhes, embora seja pertinente salientar que este foi o instrumento que mais apresentou correspondências em relação aos temas identificados neste estudo.

Além dos temas não contemplados nos instrumentos, também houve dimensões avaliadas pelas escalas que não apresentaram correspondência com os temas que foram identificados nas entrevistas e compuseram a qualidade conjugal neste estudo. Essas dimensões foram a coesão e o consenso, na DAS e RDAS, a interação conjugal e os aspectos estruturais, na ESC, e a comunicação, na AQUARELA-R. À primeira vista, a definição de coesão parece coerente com o tema Intimidade e cumplicidade, na medida em que avalia o grau de compartilhamento emocional do casal. No entanto, o exame dos itens da DAS e da RDAS demonstra que o conteúdo avaliado se refere ao engajamento do casal em atividades, à troca de ideias, rir juntos, discutir calmamente algum assunto e trabalhar em projetos conjuntos (Busby et al., 1995; Spanier, 1976). Alguns desses conteúdos, assim como o consenso, a interação conjugal e a comunicação, dizem respeito aos processos adaptativos de acordo com os critérios utilizados neste estudo, e não à qualidade conjugal. Dessa forma, conforme já apontado na literatura (Norton, 1983), os instrumentos que avaliam esses temas são inadequados para utilização em pesquisas que buscam investigar associações entre a qualidade conjugal e os processos adaptativos, pois a sobreposição entre os temas pode inflar os resultados. Os aspectos estruturais, por sua vez, embora considerem a perspectiva do parceiro, avaliam conteúdos que dizem respeito ao indivíduo, como o tempo que o companheiro dedica a si mesmo e a forma como passa o tempo livre (Dela Coleta, 1989). Na perspectiva adotada neste estudo, esses conteúdos pertencem ao âmbito da individualidade, embora possam exercer influência sobre a qualidade conjugal.

A análise das semelhanças e diferenças entre as temáticas identificadas neste estudo também demonstra particularidades relacionadas ao país de origem dos instrumentos. De um lado, alguns dos temas são abordados apenas por instrumentos brasileiros ou latino-americanos, enquanto que, por outro lado, há algumas semelhanças entre os temas oriundos das entrevistas e as escalas americanas. Assim, há uma correspondência parcial entre o que os pesquisadores americanos consideram como qualidade conjugal e o que os entrevistados reportaram neste estudo. Esse resultado é amparado por outras pesquisas que compararam a satisfação conjugal brasileira com outras culturas, demonstrando que a conjugalidade possui certos aspectos universais, como a sexualidade (Barbosa, 2008; Heiman et al., 2011).

Apesar de a sexualidade ser considerada um aspecto universal, esse tema só foi abordado diretamente pelos instrumentos latino-americanos, o que pode demonstrar uma maior ênfase nesse aspecto pela cultura latina. No entanto, isso também pode indicar uma diferença na abordagem da sexualidade, já que na literatura americana há diversos instrumentos específicos que avaliam satisfação sexual e a associam a diversos aspectos do relacionamento (Gadassi et al., 2016; Hernandez et al., 2011).

Além disso, conforme discutido anteriormente, observou-se que conteúdos referentes ao tema Expressão de carinho e afeto foram incluídos apenas nos instrumentos latino-americanos. Ainda assim, os casais deram menor ênfase a esse tema em comparação ao Compromisso e investimento na relação. Percebe-se que o carinho e o afeto são aspectos importantes para os brasileiros, todavia, a união familiar parece ter um peso maior do que a união do casal.

Considerações finais

O presente estudo buscou traçar um paralelo entre uma proposta de conceitualização da qualidade conjugal, baseada em modelos teóricos aplicados à vivência de casais, e os instrumentos de mensuração do construto, verificando o que casais entendem sobre qualidade conjugal, em uma amostra do sul do país. Destaca-se dois grandes âmbitos de pesquisas futuras: o desenvolvimento de instrumentos próprios para a população brasileira e a ampliação de estudos sobre a conjugalidade para brasileiros, visto que, embora os dados sejam similares e em conformidade com as teorias americanas, percebe-se diferenças que podem ser exploradas em futuras pesquisas.

Este estudo possui algumas limitações. Primeiramente, a pesquisa foi realizada apenas com casais dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sendo que os relatos não podem ser considerados como representativos de casais de todo o país. Seria importante que mais pesquisas em outros estados pudessem agregar ao entendimento sobre a qualidade conjugal para a compreensão da realidade brasileira. Além disso, a amostra foi formada por cônjuges de classe média e escolaridade correspondente ao ensino médio e ensino superior, o que limita interpretação dos dados a essa população. Por fim, é importante destacar que os instrumentos analisados constituem um recorte de uma grande variedade de instrumentos disponíveis na literatura internacional. Priorizou-se os instrumentos mais utilizados nos últimos anos, porém, a ampliação desse escopo poderia revelar um cenário diferente sobre as dimensões incluídas no construto de qualidade conjugal. Assim, este estudo não teve a pretensão de apresentar um conceito definitivo de qualidade conjugal ou de depreciar os instrumentos analisados, mas sim de traçar um paralelo que permita refletir sobre a avaliação da qualidade conjugal no contexto brasileiro.

A pesquisa sobre conjugalidade no Brasil ainda é recente, e por isso, sugere-se que estudos futuros abordem as lacunas relatadas neste artigo. Ainda, espera-se que estes resultados contribuam para uma melhor definição do conceito de qualidade conjugal e para a orientação de pesquisadores e clínicos quanto à abrangência dos instrumentos que avaliam o construto.

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Recebido: 11 de Abril de 2019; Aceito: 30 de Março de 2020

Autor de correspondencia: * brandrades@gmail.com

Autor de correspondencia: ** marina_mzd@yahoo.com.br

Autor de correspondencia: *** adrianaxwagner@gmail.com

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